Instante Perecível #3
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Hoje eu vou te contar como nasceu o nome dessa newsletter. Você já deve ter percebido que eu gosto da Clarice Lispector. Gosto muito! Ano passado estive mais perto da obra dela (e ela mais perto do meu coração selvagem). Em julho eu li Água viva, um livro que me arrebatou por sua história que é puro fluxo de consciência. No livro, Clarice fala o tempo todo do que é impossível dizer, e faz do seu texto um paradoxo vivo, como a vida.
Naquele mesmo tempo, eu estava entrando mais a fundo no meu próprio processo de escrita. Afinal, a pandemia me tirou das paisagens externas, mas me fez percorrer paisagens internas nunca visitadas antes. Na jornada de conhecer a minha voz da escrita (que continua viva nestas linhas que te entrego), resolvi começar um blog. Na busca de um nome, fui folhear as páginas de Água viva, e quando li a frase, eu já sabia o nome do blog:
"Desenrolo-me apenas no atual. Falo hoje - não ontem nem amanhã - mas hoje e neste próprio instante perecível." Clarice Lispector
Pronto, ali estava. O nome do blog, e mais tarde o nome desta newsletter.
Uma homenagem a este instante, único, que já passou para mim e que em alguns momentos passará para você. Uma união entre fundo de experiências e se lançar para o futuro. Tudo que temos. Transformação constante. Vida-morte-vida. Impermanência. Lugar onde a mudança acontece.
Já diria Clarice: "Agora é um instante. Você sente? Eu sinto."
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Em algum momento entre o final da infância e o início da adolescência eu parei de brincar. Mas estava enganada, eu não sabia ao certo o que era brincar. Hoje sei que o brincar nasce do desejo, este sentimento que dá notícias do que nos falta, todos os dias.
O contrário de brincar não é trabalho, pois este pode ser lúdico. O contrário de brincar é depressão, que é a morte do desejo. Brincar é criar a partir do que nos falta e imaginar caminhos possíveis. Criar é ter autonomia sobre si mesmo.
Brincar é experimentar com liberdade e não rotular. É despertar novos saberes e desconstruir saberes engessados: o que parece óbvio; os conceitos de certo e errado; o pré-concebido. Nós aprendemos e construímos conhecimento através do experimento. Brincar é experimentar sem filtros.
Muitas vezes eu percebo o medo de errar gravado no meu corpo como uma exigência que congela os sentidos. Quando isso acontece, me lembro que brincar pode ser uma forma de entrar pela brecha do erro. Quero sempre ter uma atitude amadora na vida: de fazer com amor, e de estar sempre aberta para aprender. (É assim quando estou escrevendo essa news.)
Sabendo disso, eu quero todos os dias brincar, me permitir, ousar, experimentar, improvisar, imaginar. São esses verbos que ascendem vagalumes em nós e que guardam os recursos para uma vida criativa.
Para fechar essa reflexão por aqui (mesmo sabendo que ela não termina aqui), vou compartilhar com você essa frase de Bell Hooks:
“O que não podemos imaginar não pode vir a ser. [...] Vivemos em um mundo em que crianças pequenas são incentivadas a imaginar, desenhar, pintar quadros, criar amigos imaginários, novas identidades, ir para onde quer que a mente os leve. Então, à medida que a criança cresce, a imaginação é vista como perigosa, uma força que possivelmente impediria a aquisição de conhecimento. Quanto mais alto uma pessoa sobe na escada do aprendizado, mais pedem que ela se esqueça da imaginação (a menos que tenha escolhido um caminho de criatividade, estudos das artes, produção de filmes etc.) e se concentre na informação que realmente importa. [...] A imaginação é uma das formas mais poderosas de resistência que pessoas oprimidas e exploradas podem usar e usam.”
Bell Hooks
Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática (tradução de Bhuvi Libanio, Elefante, 2020, p. 103-5)
A vida é feita de instantes perecíveis.
Como guardar instantes?
Você vive intensamente cada instante
e ele vive eternamente em você.
Bruna Berger Roisenberg
1. Conto da Cris Lisboa no podcast Mamilos
2. Essa carta da Clarice Lispector lida pela Elisa Lucinda
3. Entrevista do Odilon a Noemi Jaffe (sobre o conto "A repartição dos pães" de Clarice Lispector)
4. Habemus Vacina
Estou recebendo de braços abertos sugestões de afetos! É só me mandar.
A claridade lá fora - Martha Medeiros (Primeiro romance dela que eu li. Muito bom!! Fiquei até uns dias de ressaca literária)
Tomo conta do mundo - Diana Corso
O que ela sussurra - Noemi Jaffe (poesia pura, sobre poesia)
Me conta o que você anda lendo de bom ;)
Lupin (Netflix): Maravilhosa!! Inspirado pelas aventuras de Arsène Lupin, o ladrão gentil Assane Diop quer se vingar de uma família rica por uma injustiça cometida contra o pai dele.
Estrelando: Omar Sy (sempre incrível), Ludivine Sagnier, Clotilde HesmeBridgerton (Netflix): Shonda Rhimes nunca decepciona. Oito irmãos inseparáveis buscam amor e felicidade na alta sociedade de Londres. Inspirada nos best-sellers de Julia Quinn.
Estrelando: Regé-Jean Page (Vossa Graça), Adjoa Andoh, Julie Andrews, LorraineO preço da perfeição (Netflix): Uma bailarina é convidada para substituir a melhor aluna de uma escola de balé e acaba entrando em um mundo de mentiras, traições e disputas implacáveis.
Estrelando: Lauren Holly, Kylie Jefferson, Casimere Jollette
Novos Episódios:
Jardim de rosas de Renata Facco de Bortoli
Carta a minha filha de Maya Angelou
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
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Que bom te ter comigo atravessando essa jornada! Me senti abraçada ao receber o retorno carinhoso de cada um que me mandou mensagem.
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui: /
Receba tudo de bom que eu tenho,
Bruna Berger Roisenberg