Newsletter Instante Perecível #6
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Me diz uma coisa, você assiste BBB? Tem acompanhado o programa?
Os eventos que têm acontecido no programa me parecem como um espelho da nossa sociedade, do nosso tempo. Tenho ficado bastante incomodada com a violência psicológia, a tortura, a homofobia e a intolerância, que de nenhuma forma são entretenimento. Tenho também me questionado bastante sobre sobre as certezas, a intransigência, o cancelamento, o "endeusamento", a soberba, o fanatismo das respostas, a lacração, a violência e suas formas.
No fundo (e na superfície) quero mudanças, que eu sei que podem começar por mim mesma, e com o questionamento, com a dúvida. Quero ser mais gentil, amar as perguntas, assentar-me no que desconheço sobre o outro, ser mais hospitaleira e reverenciar a alteridade, me questionar sempre, e não me apressar a considerar heróis ou vilões. Quero estar atenta e forte. Quero poder errar e deixar que os outros errem. Não quero nunca me apressar a julgar ninguém, não quero falar por ninguém. Quero poder errar. Quero resgatar a memória da condição humana, reconhecer a potência no outro, estar disponível para a errância, para ser descabelada. Quero conhecer meus abismos e sombras e acreditar sempre no mistério que é o ser humano. E eu sei que isso é um tanto para se querer.
Vou deixar na curadoria de afetos alguns links que me fizeram refletir sobre este tema.
No mais, vou compartilhar contigo uma poesia, um texto que escrevi para a formatura do meu irmão, livros e uma série que assisti.
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Foi às 14 horas do quarto dia de fevereiro de mais um ano pandêmico. Tu vestias camisa azul, calça preta e chinelos. O canudo era de uma antiga formatura do colégio. Lá fora o tempo estava nublado, com alguns raios de sol que apareceram depois de uma chuva de verão, com ventos e raios. Eu estava na sala, junto com os nossos pais. O Tarzan dormia enquanto te assistíamos pela televisão. Tu estavas no escritório, te formando pelo computador. Diferente de tudo que podíamos imaginar.
Não estávamos sozinhos, muitas pessoas te assistiam pelo youtube, 73 para ser mais exata. Muitas mensagens de amor eram enviadas pelo chat. Tu fostes homenageado com a medalha e diploma de mérito estudantil. Vibramos muito com essa tua conquista, que tu agradeceu com um sorriso tímido no rosto.
Tu fostes o escolhido pela turma para fazer o discurso. Falou da importância de fazer e divulgar a ciência. Contou também desse tempo difícil, em que não foi possível se despedir da vida de graduando e dos amigos queridos, tão importantes nessa trajetória.
Quando chamaram o teu nome para te dar o grau de bacharel em Geologia me emocionei ainda mais. As lágrimas de emoção e alegria foram minhas companheiras nessa cerimônia.
A professora Luana, paraninfa da formatura, fez um discurso que ascendeu estrelas em mim. Falou de co-convivência, disse que acreditava em vocês e que desejava faísca nos olhos e borboletas no peito. Falou da presença, de alma e coração, e cantou lindamente o Gil:
"Não me iludo
Tudo permanecerá do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando todos os sentidos
...
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver"
De manhã te presenteamos com palavras e objetos que representam minimamente nosso amor por ti. Tem sentimentos que não podem ser traduzidos ou expressados em sua plenitude, como os do dia de hoje.
Na minha cabeça tocava sem parar "Alegria, alegria" do Caetano, que tanto amamos. Dizem que quando ficamos com uma música grudada na cabeça, o seu conteúdo diz muito de nós. "Por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores" era eu todinha hoje, sentindo uma emoção que transbordava pelos olhos ao presenciar a tua formatura.
Te amo e tenho muito orgulho de ti
(Texto-fotografia que fiz para a formatura do meu irmão Henrique, que aconteceu na quinta-feira passada, 04/02/21)
Uma folha caída no quintal
Ela não é daqui
Veio carregada pelo vento
Ela estrangeira
Eu curiosa
Cumpriu seu tempo de ser folha
E na queda seguiu seu curso
Poderia ter caído em qualquer lugar
Poderia ter se misturado à terra e virado adubo
Mas veio parar aos meus pés
E virou adubo da minha expressão
Uma miudeza para a paisagem
Uma tela valiosa para mim
Tudo passa
Tudo se move
Se transforma
O tempo passou
A folha caiu
As cores mudaram
Uma nova estação
Passou
E eu quase passei
pela folha sem nem olhá-la
Passou a indiferença
Passou também a voz que diz que é besteira
Passou a curiosidade e ficou
No olhar que viu além
No olhar que busca a poesia diária
Que salva os instantes
Que passam
Tudo passa
Mas eu quero que poesia fique
Que a folha fique
Ela fica com um tanto de mim
Ela fica na fotografia
Tirada em uma hora que já passou
Em um dia que já passou
Por uma Bruna que já passou...
...por milhares de folhas e só viu folhas
Já passou
Bruna Berger Roisenberg
A resposta é a desgraça da pergunta - Tattiane Dantas
Violência psicológica, entretenimento e psicanálise - Morgana Medeiros
Escaneando o que dói - Marcele Emerim
Estou recebendo de braços abertos sugestões de afetos! É só me mandar.
Laços de Família - Clarice Lispector
Clarice, né? Maravilhosa, como sempre. Com destaque para os contos: Amor; A imitação da rosa; Feliz Aniversário; e O búfalo.
Cartas - Caio Fernando Abreu
Ainda quero escrever mais sobre as cartas. Fiquei muito emocionada durante toda a leitura, tanto que ainda me faltam palavras para te contar mais sobre o livro. Sinto que descobri uma nova paixão literária.
Já leu estes livros? Me conta o que você anda lendo de bom ;)
Mãe só tem duas (Netflix): Depois de descobrirem que suas bebês foram trocadas na maternidade, duas mulheres acham uma saída inusitada: formar uma família.
1 Temporada
Estrelando:Ludwika Paleta, Paulina Goto, Martín Altomaro
Série mexicana, bem no estilo "novela mexicana". Termina no auge do clímax, o que me deixou esperando uma segunda temporada. Ela trata de relações familiares, questões de gênero, feminismo, maternidade entre outros temas relevantes. Eu gostei bastante. Você já assistiu?
Novos Episódios:
Carta - Mia Couto
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter comigo em mais essa newsletter!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Com o coração acelerado, buscando serenidade,
Bruna Berger Roisenberg