Newsletter Instante Perecível #10
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Ontem foi dia internacional da mulher, então deixo para ti um poema da Germana Zanettini:
"8 de março
uma vez por ano
um homem apanha flores
a cada cinco minutos
uma mulher apanha"
No mais, 260 mil famílias choram a perda dos seus amores. Os homens exercem seus podres poderes. E eu rezo junto com Denise Fraga nesse vídeo:
"Santo Deus, não aplaque a minha fúria. Proteja a minha indignação dos dias iguais, dos dias banais. Renove a minha perplexidade diante de tanto absurdo. Deus, meu pai, mantenha aceso o fogo que incendeia minha alma para que eu possa forjar o magma da minha fúria em assertividade e paixão. Canalize o jorro da minha indignação furiosa em implacáveis gotas de lucidez para minha luta diária a caminho da verdade."
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Dia 'já perdi as contas' de isolamento. Só sei que em breve completará um ano. Uma volta inteira em torno do Sol, vendo ele mudar de posição na janela há 4 estações. A vida ficou inteira aqui dentro.
Acompanhei de perto o crescimento das minhas plantinhas. E a morte de outras. Descobri que quando chove, de noite, a árvore da rua reflete a luz do poste, como se estivesse enfeitada com luzinhas de natal. Descobri que esse efeito só é visível no lugar onde eu gosto de me sentar na sala. Abracei muitas pessoas, até mesmo pessoas desconhecidas, virtualmente. Uma livraria inteira chegou pelo correio. Meu consultório ficou vazio e o meu quarto virou sala de aula, academia, local de trabalho, cinema e biblioteca. Descobri que um único cômodo pode ser um lugar infinito.
Senti profundamente o desespero do medo. Medo de perder pessoas amadas, medo do futuro. Medo de não saber mais viver com as pessoas de carne e osso. Medo de que nada mude. Medo da mudança. Medo de que a vida passe como o suspiro que é, e que eu me esqueça do que é viver.
Em dias como hoje, o medo me estrangula. A tristeza dói, como se meus ossos estivessem sendo arrastados pelo chão. Nesses dias, me escapa a poesia do olhar. E, ao mesmo tempo, são os dias que mais preciso de poesia. Poesia que dá um rosto humano para a dor. Poesia que abraça a minha precariedade. Poesia que abre um raio de sol no meio da tempestade. Poesia que aperta e alivia o peito. Poesia que vira oração. Poesia que revela e abriga o mistério da vida. De viver, apesar de tudo. A palavra que jorra em direção ao mundo para que ele possa me habitar, enquanto eu o habito.
Abri o livro da Adélia. "Qualquer coisa é a casa da poesia". Amém, Adélia. Sussurro para mim mesma que eu posso ser a casa da poesia. Que a minha casa pode ser a casa da poesia. Que este instante pode ser a casa da poesia. A poesia cabe, aceita qualquer teto que a abrigue. Penetra por qualquer fresta. Se espalha mais rapidamente que esse vírus maldito. A poesia é a batida do meu coração, que insiste em bater. É essa alma que chora, de tristeza e de beleza, ao mesmo tempo. É a parte de mim que insiste em esperançar, que acredita que ser humano é para brilhar. A poesia me dá a mão e ela é a minha mão. Minha sina é cantar a poesia para embalar a travessia.
tem dias que a poesia é a casa da dor
o coração continua batendo
e se enfia pelas frestas
da vida
...
por Bruna Berger Roisenberg
Documentário da Joan Didion na Netflix
O documentário começa assim: "Foi a primeira vez que eu lidei diretamente e sem rodeios com a comprovação da fragmentação, a prova de que tudo pode desmoronar. Se eu fosse voltar a trabalhar, seria necessário que eu passasse a entender o caos."
Eu amei cada segundo, e saí cheia de vontade de ler as coisas que a Joan escreveu (além de super inspirada para escrever). Você já leu algo dela?
Essa entrevista com a Cris Lisbôa, para ouvir 1000 vezes
Vídeo novo do Tempero Drag sobre o racismo reverso e outras ficções
Estou recebendo de braços abertos sugestões de afetos! É só me mandar.
O coração disparado - Adélia Prado (pois a poesia salva os dias)
Um defeito de cor - Ana Maria Gonçalves:
Um livro que vou ler durante o ano todo seguindo o cronograma do Leia Mulheres Olinda. A proposta é ler 3 páginas por dia. Ainda dá tempo de acompanhar! Li toda a parte de janeiro e fevereiro em 5 dias, e foi difícil desacelerar a leitura, já que a história me capturou nas primeiras páginas. Sem contar o prefácio, que dava um livro inteiro pela história fascinante da escritora. Vem ler comigo?
Me conta o que você anda lendo de bom ;)
Novo Episódio:
Trecho do livro 'O que ela sussurra', de Noemi Jaffe
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Te envio meu carinho,
Bruna Berger Roisenberg