Newsletter Instante Perecível #13
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Na semana passada eu não escrevi. Estava doente (não era covid!), e precisava de um tempinho para me recuperar. Senti muita falta de vir aqui te escrever. Fazer essa news tem sido uma companhia revigorante para os dias. É como tomar uma boa xícara de café e sentir o aroma que invade a casa. Escrevendo aqui, eu sinto o calor dos afetos que invadem o corpo. Sinto que recebo e dou muitos abraços virtuais, não menos reais, apenas diferentes, os abraços possíveis. Então cá estou eu, bem cuidada e com saudades de escrever.
Hoje vou te contar um pouco sobre Contardo Calligaris, que faleceu essa semana. Também compartilho contigo uma poesia autoral, uma curadoria de afetos de tirar o fôlego, dois livros que eu li recentemente e o último episódio do Literapia.
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Nessa semana faleceu Contardo Calligaris. Ele era psicanalista e escritor. Foi dele um dos primeiros livros que eu li sobre psicologia e psicoterapia: "Cartas a um jovem terapeuta". Eu estava no primeiro ano de curso de psicologia, e esse livro foi como um portal. No fundo, o que me capturou na leitura já era a semente plantada no solo da alma. Como um bom sonho cultivado com bastante desejo. Eu queria ser terapeuta. Ou escrever daquele jeito que ele escrevia, que reconhece e movimenta o fluxo de vida de quem lê. Ou os dois. E. Ser terapeuta e escrever. Já estava lá. Está aqui.
O livro tem uma parte bem marcante em que Contardo conta que "arrumou" propositalmente a sala de psicoterapia para receber seu primeiro paciente. Ele bagunçou o sofá, deixou um copo de água usado, o cinzeiro sujo. Tudo para parecer um terapeuta experiente. Anos mais tarde, ele encontrou esse mesmo paciente em um congresso, e ele conta que quando procurou Contardo, pediu indicação para um conhecido pois queria justamente ser o primeiro paciente de um analista jovem. Ele achava que seus problemas eram muito banais para um analista experiente. Eu carrego essa história marcada no meu peito até hoje, pois mostra que podemos nos esforçar ao máximo para sermos amados, e nunca será por esse motivo que seremos amados. Somos amados pelo que somos, e não por quem nos esforçamos parecer ser. Não é preciso fingir nada.
Vou te contar uma outra parte específica do livro (que eu tenho até hoje e que está todo sublinhado e rabiscado). Contardo dizia que a paixão pela literatura é sinal de carinho e aceitação diante da variedade das vidas. Concordo inteiramente com ele. O amor pela literatura é sempre amor por muitos livros. O amor pela psicologia é sempre o amor por muitas vidas (e as muitas formas de viver a vida).
Assim como Contardo, eu também sinto uma pena melancólica por todas as vidas que eu não vou viver. O que faz com que eu tenha muita dificuldade de escolher, por desejo de viver tantas vidas diferentes e pelo medo de perder as vidas que não vou viver (o que é inevitável, já que só temos uma vida, com vários capítulos diferentes, mas uma só). Ainda bem que eu tenho os livros e as pessoas para fazer as 'várias vidas' um pouco possíveis. Vou vivendo muitas e muitas vidas em uma só. Só não posso esquecer de sair um pouco das páginas e ir viver, para que eu possa escrever e viver as minhas próprias páginas, bem vividas.
Obrigada Contardo, por tudo e por tanto. Você continua aqui.
E você? Como tem escrito os capítulos da tua vida?
O cansaço que eu sentia
Era de viver
Com meia alma
A doença da pele
E a doença dos dias
Tirou uma parte de mim
E eu me agarrei
A meia parte
Para que ela não se fosse
E da outra metade
Fiz um amuleto
Voltei pros sonhos
E pras estrelas
Até que o corpo
Voltou a pulsar
Um fluxo de vida nova
Ainda discreta
Fazia crescer a alma
Até quase inteira
...
por Bruna Berger Roisenberg
Esse texto de Marcelino Freire interpretado por Naruna Costa
Totonha de Marcelino Freire
(Eu tive uma aula de escrita com Marcelino e Clarice Freire, e me encantei com a poesia deste autor. Por isso quis trazer ele aqui, para te apresentar. Segundo Marcelino, não escrevemos só com a mão, escrevemos com as unhas, com o corpo todo. O texto tem que ter eletricidade, e é preciso encontrar a pulsação e não a pontuação).
A perfeição inalcançável - Rita Von Hunty
Renata Sorrah, “Em companhia”
O palhaço e o psicanalista - Christian Dunker e Cláudio Thebas
Um livro inteiro sobre a arte da escuta.
Redemoinho em dia quente - Jarid Arraes
Amei esse livro de contos! Jarid escreve sobre a nossa realidade mais humana (tantas vezes sofrida) como um susto lento, uma lufada de ar fresco.
Me conta o que você anda lendo de bom ;)
Novo Episódio:
Para a arca - Wislawa Szymborska
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Te envio minha presença, virtual e real
Bruna Berger Roisenberg