Newsletter Instante Perecível #16
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Primeiro eu gostaria de agradecer a todas que participaram do minicurso 'A escrita de si'. Estou até agora com o corpo aquecido de afeto. Te envio todo o meu amor.
Hoje eu vou compartilhar contigo:
- uma crônica sobre o tempo, que aconteceu na brecha da janela da cozinha;
- uma poesia autoral, entre o tempo e a espera;
- curadoria de afetos com Aline Bei e as colunas da Maria Homem sobre o luto;
- 2 livros lidos e;
- episódio de aniversário do Literapia.
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Olhei pela janela da cozinha e vi que uma pombinha se agitava entre os galhos espinhosos da bergamoteira. Fui me aproximando do vidro para olhar mais de perto e vi que eram duas pombinhas. Uma delas bem redonda, parada no galho. A outra, indo de lá para cá com pequenos gravetos no bico. Logo imaginei: a pombinha está grávida e a outra está ajudando a construir o ninho para seus futuros filhotes (que pelo estado da pombinha redonda, não iam demorar a chegar.)
A cena logo me capturou e eu estava hipnotizada vendo o trabalho das duas pombinhas para construir o ninho. A vida acontece nas frestas. Neste caso, nas frestas da janela.
Até que eu senti em mim uma agitação. É que o processo todo demorava muito, e várias vezes as pombinhas deixavam cair os gravetos no chão. Um monte de fantasias catastróficas começaram a passar pela minha cabeça: e se não der tempo? E se os ovos se quebrarem? E se eles não conseguirem? E se um vento forte derrubar o ninho? Minha vontade era pular a janela e começar a ajudar. Catar um monte de galinhos pelo quintal, quem sabe até mesmo colocar um ninho pronto na árvore.
A espera parecia não ter fim, e a agonia da impossibilidade de agir foi me deixando inquieta. Até que uma voz dentro de mim cochichou: espera. Talvez seja a voz do animal que já fomos, e que esquecemos que ainda somos. A voz repetiu: espera, confia. Lembrei da Lygia Fagundes Telles e seu besourinho verde: é que o que eu entendo como ajuda pode não ser ajuda para o outro. Eu tinha que confiar na sabedoria da natureza. Eu ajudaria mais se não fizesse nada.
Então eu me dei conta do quanto eu estava desconectada com o tempo próprio das coisas. O que parecia uma eternidade para mim podia não ser tanto tempo assim no tempo das pombinhas. Talvez a conexão delas com o tempo da natureza seja mais confiável do que a minha. Quando foi que nos perdemos no tempo? Nada poderia ser acelerado. Nenhuma ajuda. Nenhuma solução. Só a espera pelo inesperado.
Que logo aconteceu. Alguns dias depois o ninho estava pronto. Parecia muito seguro, e abrigava a pombinha à espera dos seus filhotes. Tudo ao seu tempo. Sem apressar nada. A natureza seguindo seu curso e eu como testemunha ocular de um milagre na minha janela. A brecha, a construção, a espera, a confiança e a vida nova.
Clica aqui para assistir o vídeo das pombinhas e o ninho!
O que for nascer
Encontrará um solo
Entre o tempo e a espera
Uma brecha
Pra ver crescer a ponta de um sonho
No bico do pássaro
Um galho do ninho
Um a um
Quantos forem precisos
Os vôos no meio dos espinhos
Alto risco
De ver nascer
Entre o tempo e a espera
A nova vida
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Aline Bei lendo um trecho do seu novo livro: escute de olhos fechados
As colunas da Maria Homem sobre o luto:
O que seria de mim
As máscaras do luto
A vida não é útil - Ailton Krenak
Garota, mulher, outras - Bernardine Evaristo
Novo Episódio:
1 ano de Literapia - Episódio de aniversário
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
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Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
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Te cuida e cuida dos teus amores!
E se a saudade bater, me escreve.
Com amor por escrito,
Bruna Berger Roisenberg