Newsletter Instante Perecível #22
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Já parou para pensar que estamos quase na metade do ano? Por aqui acontece uma coisa estranha. Os dias parecem anos, mas as semanas tem passado em um instante. Quando me dou conta já acabou a semana. Já acabou o mês. Você também tem se percebido em dissonância com o tempo?
Eu queria te dizer que eu estou cansada. Não para reclamar, nem para te infectar com o meu cansaço, mas para compartilhar um pouco contigo o que eu tenho sentido. Encontrar outras pessoas cansadas por aí tem me feito sentir menos deslocada. O isolamento, a CPI, as mortes, o trabalho… quase não tive forças de bater panela na semana passada. Não está fácil ser brasileira. Estamos adoecidos. É tanta fragilidade, que nos surpreendemos quando uma pessoa minimamente sensata, adulta e lúcida falou na CPI. E nessa semana tem mais. Que possamos ficar bem e encontrar forças para seguir minimamente sãos. Por falar em sanidade, sentir raiva e indignação neste momento me parece algo ajustado com a realidade em que vivemos. Seria delírio achar que está tudo bem, né? Por falar em delírio, meu delírio comunista é o artigo 3o. da Constituição Federal:
Artigo 3o. da Constituição Federal
Por tudo e por tanto eu corro pras artes. Elas que aliviam a vida sem aliviar de viver, como diz o Pessoa. Espero que as minhas palavras possam te abraçar de poesia hoje e sempre.
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Hoje eu terminei de ler 'Da arte das armadilhas' da Ana Martins Marques. Livro de poesia que fez chover vida dentro do peito. A Ana tem cuidado com as palavras, e, ao mesmo tempo, faz delas de gato e sapato. Uma das minhas poesias favoritas se chama 'O brinco'. Ela brinca com o que pode ser. Pode ser que a moça cansada de olhos tristes da lanchonete tenha uma imagem mais fiel de mim do que qualquer outra pessoa. Pode ser que um gesto te devolva toda a infância. Pode ser que uma quarta-feira seja a vida toda, ou não. Mas eu gosto de imaginar que pode mesmo. Pode tudo. Mesmo o que parece sem sentido ganha um corpo na poesia da Ana. Eu digo que ganha corpo, pois não basta racionalizar. Não basta tentar entender. Concluir é uma palavra proibida. Eu só consigo ficar com o que o corpo sente, e isso é tudo. Isso é muito. E não acaba. Sinto que os meus olhos se abrem, bem como o meu peito. E cada coisa banal ganha uma importância urgente. Pode ser que esse seja o pôr-do-sol mais lindo que eu já vi. Não posso medir isso, nem concluir, nem ter certeza alguma. É só o que eu sinto neste instante, e essa é toda a verdade de que preciso. Instante, a única medida de tempo possível para a poesia da Ana. Um instante que pode ter o tamanho da eternidade. Cada poesia é um universo, e abre universos em mim. Eu quero escrever. Eu quero olhar o mundo como ela olha. Eu quero engolir cada assombro que tenho ao ler cada frase que ela escreve. Eu quero aprender a partir como quem fica. Partirei para a próxima leitura, mas vou morar neste livro ainda por alguns instantes infinitos. Afinal, gosto do meu mundo se abrindo com a chave-palavra da Ana. Da armadilha da arte: Depois de abrir o livro, não tem volta. Eu não sou mais a mesma. Leiam poesia. Leiam Ana Martins Marques.
*Sobre o livro 'Da arte das armadilhas' de Ana Martins Marques.
**Você pode ouvir a poesia 'O brinco' no podcast Literapia.
Ana Martins Marques
eu moro na poesia
minha casa de palavras
rosto humano para a dor
o real revelado
no instante fugaz
poesia que abraça a minha precariedade
poesia é raio de sol
no meio da tempestade
poesia aperta e alivia o peito
poesia é oração
poesia revela e abriga
o mistério da vida
de viver, apesar de tudo
a palavra jorra em direção ao mundo
para que ele possa me habitar
enquanto eu o habito
este instante
é a casa da poesia
a poesia cabe e extrapola
aceita qualquer teto que a abrigue
penetra qualquer fresta
se espalha mais rápido
que esse vírus maldito
a poesia é a batida do meu coração
que insiste em bater
é a alma que chora
de tristeza e de beleza
é a parte de mim
que insiste em esperançar
a poesia me dá a mão
ela é a minha mão
minha sina é cantar a poesia
para embalar a travessia
...
Por Bruna Berger Roisenberg
A mulher na janela - Filme Netflix e livro de A. J. Finn (Thriller psicológico) (Eu gostei bem mais do livro, apesar de o filme ter atrizes maravilhosas).
Combo Maria Homem:
- Bye, Contardo! no podcast 451MHz
- Maria conversa com Marília Librandi - 33' Brazil Lab
Escrever para lidar com nossas emoções - Ana Holanda
Mês do orgulho: As palavras de Paul B. Preciado e esse vídeo da Rita Von Hunty
Curso 'A escrita de si' especial para a Cabrun!
Fica atenta ao meu perfil no insta para mais notícias sobre os cursos!
Suíte Tóquio - Giovana Madalosso
Que livro BOM! Para mim foi uma mistura de 'Que horas ela volta' e 'Little Fires Everywhere'. Parece uma mistura improvável, mas eu não conseguia parar de ler.
Novo Episódio:
O brinco - Ana Martins Marques
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
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Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg