Newsletter Instante Perecível #23
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Na sexta-feita eu me encontrei com o pessoal da Cabrun! para conversar sobre 'A escrita de si'. E como todo bom encontro tem uma dose do inesperado, lá pelas tantas falamos sobre sonhos. Sobre as mensagens que os sonhos nos enviam sobre nós mesmas. Sobre escrever os nossos sonhos. Dar para eles importância, lugar, e um corpo de palavras. Então eu te trago hoje um sonho. Escrevo para compartilhar contigo esse presente enviado como um oráculo das minhas paisagens mais profundas. Um anúncio de vida nova. Um convite para que eu olhasse para a minha sede de viver. Vem sonhar comigo?
Eu também te trago uma poesia autoral, livros lidos, e uma curadoria de afetos. Com destaque especial para esse vídeo (que eu já vi 300 vezes):
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
(O texto de hoje nasceu inspirado em um sonho).
Estava andando por uma estrada vazia. Abandonada, árida. Tudo em volta era destruição. Casas com os vidros estilhaçados. Paredes esburacadas. Tudo seco. Morte. Estou cansada de caminhar e com sede. Resolvo entrar em uma das casas. Escura, fria. Parecia que nunca tinha sido habitada por vida. Nenhum móvel. Nenhuma fotografia. Nada que lembrasse alguém, somente sujeira e poeira. Eu fui entrando, abri uma torneira. Para a minha surpresa: água. É que qualquer sinal de vida por ali me surpreenderia, tão acostumada que eu estava com a morte. Bebi a água das minhas próprias mãos. Matei um pouco da sede que eu carregava no corpo por tanto tempo. Molhei o rosto, os braços. Senti um arrepio do corpo-alma sendo lavado. Resolvi explorar a casa e encontrei um jardim nos fundos. Tudo seco. Morte. Em um canto do jardim tinha um balde. Ele estava rachado, quebrado, mas ainda conseguia carregar um pouco de água. E com o pouco que me era possível fui regando a árvore do quintal. Fiquei me perguntando se ela sentia tanta sede de vida quanto eu. Reguei, roguei. Depois da terra molhada, fui descansar. O corpo pedia uma pausa, e ali me pareceu um lugar seguro. Acordei de súbito. Não sonhei com nada. Acho que eu dormi a noite toda, pois amanhecia no horizonte. Olhei em volta e vi a árvore do jardim. Dela, nasciam uns galhos novos. Verdes de vida nova. No lugar mais improvável, contra toda a descrença. A árvore voltava à vida. Eu também. Nada estava totalmente morto, apenas adormecido. Esperando, esperando. Um olhar, uma ação. Movimento. Resolvi ficar por ali, onde a vida ainda nasce. E, pela primeira vez, vislumbrei um futuro. Quem sabe eu posso fazer renascer um jardim inteiro?
para não morrer de sede
no meio de um mar de água potável
é preciso saber ouvir
o que o seu coração deseja
se deixar levar pelo que faz sua pele
se arrepiar
confiar no brilho dos olhos
e no rubor da face
encontrar prazeres possíveis
poder sentir
mesmo quando não faz sentido
abraçar os paradoxos
e ser continente para o descontínuo
saber que viver verdadeiro é encontro
e que precisamos de laços de confiança
a vida é um sopro
mas o tempo não passa
o tempo está
então sempre é tempo
e um instante pode ser infinito
para não morrer de sede
diante da abundante água da vida
que corre por ti
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Filme Moxie - Netflix
É tudo texto - Entrevista com Cris Lisbôa
As duas canoas de Luiz - Blog Trombadas (Uol)
Manual da faxineira - Lucia Berlin
Livro de contos que estava na minha lista de leitura há anos. Foi indicado pela Lili Prata e pela Aline Bei. Só agora peguei para ler. Ele me chamou, como gosto de pensar que os livros fazem conosco. Gostei bastante da escrita da Lucia.
Questões de viagem - Elizabeth Bishop
Livro de poesias sobre a viagem de Elizabeth ao Brasil. Retrata lindamente a nossa natureza exuberante.
Novo Episódio:
Dois rios - Lucão
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg