Newsletter Instante Perecível #27
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Como você tem vivido sua vida?
Eu sei, essa é uma pergunta meio capciosa para os tempos que estamos vivendo, né? Mas eu queria te dizer que eu tenho me perguntado muito sobre a vida, o agora, o futuro e os sonhos. E, claro, as memórias ganham vida todos os dias. Eu sinto que com a pandemia a minha percepção sobre a finitude mudou. A vida nunca foi tão rara e eu nunca tinha dado tanta importância para o que realmente importa. Cuidar de quem eu amo. Apreciar as miudezas. Ter tempo de descanso. Permitir sentir. Deixar o rio da vida criativa correr livre. Me questionar menos sobre o que eu faço. Me acusar menos sobre quem eu sou. Falar sobre o que eu sinto. Respirar arte. Dizer não. Perder tempo. Observar a natureza. Cessar o corre-corre. Buscar o silêncio. Dizer que amo...
Eu quero que essa cartinha te encontre como um abraço de vida e como um convite para olhar para o que realmente importa para ti.
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Eu tenho um livro de perguntas diárias. Uma pergunta por dia, durante 5 anos. Na semana passada eu me deparei com essa pergunta: Qual foi o último filme que você viu no cinema? Respondi em julho de 2020 que o último filme que eu vi no cinema foi Jojo Rabbit. Respondi em julho de 2021 que o último filme que eu vi no cinema foi Jojo Rabbit. Eu me senti triste e saudosa, pois me dei conta de que não vou ao cinema desde fevereiro de 2020. Eu amava ir ao cinema, e eu ia quase toda semana. Me enchia de alegria o cheiro da pipoca, o escuro, a tela gigante, a espera pela estreia dos filmes que eu queria muito assistir… E o pior, eu não sabia que aquela seria minha última vez em um cinema por um ano e meio (e contando...).
Este tempo pandêmico tem sido um tempo de lidar com as últimas vezes. Essas últimas vezes que foram vividas sem o conhecimento de que seriam as últimas (pelo menos por um bom tempo). Você se lembra qual foi a última vez que você foi ao cinema? E a última vez que você saiu para comer fora? E a última festa? Os últimos abraços? Você acha que teria aproveitado mais se soubesse que seria a última vez por um bom tempo? Eu acho que sim.
Mas o fato é que não sabemos. Nunca sabemos quando vai ser a nossa última vez no cinema. Não sabemos qual vai ser o último abraço. A última conversa. O último beijo. São raros os momentos em que sabemos. Eu fico pensando em tudo isso e vou refletindo sobre como eu estou vivendo a minha vida. A consciência da finitude (da minha finitude e da finitude dos instantes) me faz querer saborear a vida nos seus mais ínfimos detalhes. Os instantes perecíveis. O tempo que não volta. As transformações constantes. Olhar para a vida com toda a sua raridade faz com que a minha experiência de estar viva seja brilhante. Não menos dolorosa, mas mais intensa. De tirar o fôlego.
A vida é bela e rara. Curta e abundante. E todos os adjetivos contraditórios e complementares que eu puder pensar. Então vive. Vivo. E escrevo como se fosse a última vez. Ou a primeira vez. Sempre.
diante do céu estrelado
eu quero o silêncio
me espantar com a imensidão do universo
e com a minha pequenez
quero procurar o Cruzeiro do Sul
o mesmo do céu da Austrália
e lembrar como o mundo é pequeno
quero procurar as Três Marias
as mesmas da infância
e lembrar como o tempo voa
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Zoey`s extraordinary playlist - Segunda temporada (e última -- chateada) - Tem na globoplay. Para quem gosta de série musical e quer escapar um pouco da realidade.
Esse poema da Cláudia Vetter - Lindo demais!
Essa live - com Giovana Madalosso e Natália Timerman
Esboço, Trânsito e Mérito: a trilogia da Rachel Cusk
Eu gostei muito dessa trilogia. A protagonista fica sempre em segundo plano no livro e aparece mais como ouvinte, pelo que ela escuta das pessoas que encontra pelo caminho. Sua história aparece em pequenos lapsos entre os diálogos, mas é através dela que conhecemos mais quem cruza por ela. São livros estranhos, em que quase nada acontece, mas mesmo assim tiveram a mágica de me prender em todas as páginas. Eu devorei os três livros. Durante a leitura eu percebi que viajava bastante por lembranças, reflexões e sentimentos, o que eu sempre gosto.
"Eu tinha descoberto mais coisas escutando, falei, do que jamais julgara possível." Rachel Cusk
Novo Episódio:
Carta de Clarice Lispector para Fernando Sabino
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg