Newsletter Instante Perecível #28
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
Hoje eu compartilho contigo um texto sobre o dia da vacinação, e ele vai recheado de memórias e sentimentos.
Também tem poesia autoral, curadoria de afetos, livros e o último episódio do Literapia.
Vamos juntas?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Eu acordei mais cedo do que o despertador. Isso sempre acontece quando a antecipação para o dia que virá não cabe no meu sono. Abri os olhos, e ainda contaminada pelos sonhos eu me lembrei: hoje é o dia da segunda dose da vacina. Tomei o café da manhã e fui fazer meus 20 minutos de Yoga matinal. Meu coração estava acelerado, e eu mal me continha de ansiedade. Ansiedade boa, que movimenta. A visita das famosas borboletas no estômago.
Meu irmão me deu uma carona. Sempre ele acompanhando meus passos. Fomos percorrendo o caminho do córrego até a UFSC. Caminho que percorri por anos de graduação, mestrado e consultório. Impossível não sentir saudade misturada com tristeza. A primeira visão da UFSC é estranha. Tudo vazio. Os estacionamentos, que já estariam abarrotados de carros àquela hora da manhã em um tempo pré-pandêmico, estavam cheios de vagas disponíveis. Meu irmão estacionou e eu saí do carro em direção ao centro de eventos (lugar da vacinação). Entrei em uma pequena fila, entre o prédio e o laguinho da UFSC.
Reflexo no prédio do Centro de Eventos da UFSC
O laguinho da UFSC
Estar naquele lugar, naquelas circunstâncias, fez o meu coração pular uma batida. O meu corpo inteiro era memória. Lembrei de todos os momentos vividos naquele cenário. Conversas com amigas, caminhadas pelos centros da universidade, minha formatura, pastel e caldo de cana na feirinha, o medo dos patos do lago, as inúmeras Sepex (feira de pesquisa e extensão) que eu ia desde criança… todas essas memórias misturadas com o instante mais esperado do último um ano e meio (quiçá da vida): a segunda dose da vacina contra a Covid. Conforme a fila ia diminuindo, mais emocionada eu ficava. Eu sentia saudade, tristeza, alegria, esperança, raiva…
Até que entrei no centro de eventos. Fui invadida por uma vontade súbita de caminhar até a livraria, olhar a vitrine e passar um tempão lá dentro especulando os livros, como eu já fiz inúmeras vezes antes, talvez sem dar o devido valor. A fila dentro do centro de eventos (carinhosamente chamado de elefante branco) se estendia pela praça de alimentação. E novamente um aperto no peito pelo vazio. V a z i o. Um lugar que era cheio de vida, sempre movimentado a qualquer hora. Vazio. E cheio de memórias: cafés, almoços, docinhos depois do almoço, o encontro com a amiga depois da última prova da faculdade, a prova da beca para a formatura naquela portinha dos fundos… Vazio.
A praça de alimentação do centro de eventos da UFSC.
Cheio. Fila para a vacina.
Confesso que umas lágrimas já deixavam os meus olhos desde o início da fila. Esse rio teimoso que insiste em correr. Como a vida. Passou correndo também o instante. Vacina no braço, alívio no peito.
Na saída uma selfie com o cartão de vacinação e um muro: onde bolsominion não tem vez. Não preciso dizer mais nada, né? Os muros também falam.
"onde bolsominion não tem vez"
Segui para o carro e depois para casa, rezando para que todo mundo tenha a mesma sorte que eu. Mais de 500.000 pessoas não puderam viver esse momento, e eu me entristeço e me revolto. Vidas perdidas para o descaso do (des)governo genocida.
Mas ainda vivo, sigo. Escrevo, que é a minha forma de continuar. Tento encontrar palavras no meio desse turbilhão de sentimentos. Tento encontrar algum sentido nisso tudo. Escrevo, na tentativa de guardar (mostrar, lembrar) uma fotografia deste momento inefável.
quando ver um abraço
vai parar de ser estranho
vai parar de ser errado
abraço
era certo
para salvar uma vida
virou proibido
para salvar uma vida
quando
colocar os braços ao teu redor
para sentir teu coração
vai voltar a ser permitido
celebrado
sem medo
quando
o mundo vai entrar em órbita novamente?
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Aluga-se um paraíso - A série perfeita para viajar o mundo (mesmo em isolamento).
O filme Dor e Glória do Almodóvar - Eu amei a história, as cores, e a delícia de um filme inteiro em espanhol, onde as palavras ganham ritmo de poesia.
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Caguei - Coluna de Maria Homem para a Folha
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(Eu li uma carta por dia, de outubro/2020 a jun/2021)
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O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
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Com amor,
Bruna Berger Roisenberg