Newsletter Instante Perecível #32
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
"Não é como você escreve, mas é como você sente!" me enviou a amiga poetisa Renata Facco de Bortoli nessa rede de afetos costurada pelas palavras escritas. A poesia me salva. A literatura me abraça. A escrita dá um corpo de palavras para o que eu sinto. Então eu venho aqui compartilhar contigo um pouco de tudo o que eu amo.
Nesta edição da news eu te trago um texto inspirado em Aline Bei, Anne Sexton, e Deborah Feldman. Eu também te entrego uma poesia, curadoria de afetos, dois livros lindos que eu li e o último episódio do Literapia.
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
"Passei a vida, na verdade, fugindo de mim mesma. Dostoievski diz: "de que coisas sujas é capaz o coração." Começo esse meu diário cheia desse sentimento de impureza. De que serviria um diário senão para examinar a própria impureza?" Escreveu Anne Sexton, que começou a escrever após um colapso emocional. Ela, que se agarrou à escrita como uma tábua de salvação, escreveu: "A vida da poesia é que me salva (espero), porque algumas coisas vão mal como eu nunca vi".**
Eu me emociono ao ler essas palavras. Quero perguntar para Anne o que é impureza para ela? Pois se ela está falando dos seus próprios sentimentos, arrisco dizer que não há impureza mais pura. Sim, o que sentimos às vezes parece sujeira do coração. Uma névoa escura, ainda sem forma. Mesmo assim eu gosto de pensar que sentir é saber. E me convido a saber pelo sentir, mesmo que para isso eu precise escrever. As palavras parecem um fruto racional, apenas ecos do pensamento ou de alguma tentativa de racionalização. Só que quando eu escrevo, eu sinto mais do que penso. Posso até vir a pensar sobre o que eu escrevo, mas depois. Primeiro eu sinto, sinto enquanto as palavras vão desenhando o papel. Sinto o movimento das minhas mãos, as batidas no meu peito, o fluxo da respiração. Escrevo com o corpo todo. A poesia não salva a vida, ela salva o instante. Já dizia Clarice Lispector que a escrita "(...) salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador."
Venho te escrever inspirada por por Aline Bei, que compartilhou esse pirilampo da Anne Saxton. Aline Bei, que já salvou meus instantes com o peso do pássaro morto. O peso do pássaro é sobre a perda. E esse pássaro era tão pesado, tão morto, que fez com que um pássaro dentro de mim se libertasse e renascesse. O que nasce da perda. A liberdade. A liberdade da escrita de Aline sempre me fez sentir atônita: "É possível escrever como se sente!".
"Não é como você escreve, mas é como você sente!" me enviou a amiga poetisa Renata Facco de Bortoli nessa rede de afetos costurada pelas palavras escritas. A poesia me salva.
Algumas coisas na vida não precisam de fundamentação (como acabo de ler em 'Nada Ortodoxa', da Deborah Feldman). Muitas vezes não precisamos de mais que um instinto, uma sensação. Nem tudo precisa ser explicado, compreendido. Foi assim que Deborah encontrou a escrita: era uma questão de necessidade colocar para fora seus pensamentos turvos. Dar a eles um corpo de palavras. Imagino que foi assim que ela começou de fato a poder sentir, a poder reconhecer o que sentia. Foi assim que eu cheguei na escrita, sentindo. E é assim com cada passo corajoso que eu dou na vida: está mais relacionado a um sentimento do que a um pensamento racional. Até porque, se eu for parar para pensar, nada faz muito sentido mesmo, e eu acabaria perdendo a coragem de agir. Então eu ajo, eu crio, eu sonho, eu me movimento, eu trabalho, eu escrevo: sentindo!
**(Trechos retirados desse post da Aline Bei)
elevo os pensamentos
acima dos relógios
longe dos aviões
onde nem o ar alcança
para encontrar as palavras
a poesia me tira da órbita
e me coloca de volta na vida
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Esse vídeo da psicanalista Maria Homem falando sobre o livro 'A ridícula ideia de nunca mais te ver' da Rosa Montero.
Escrevivência: experiências viram contos e poesias - Podcast Trago Boas Notícias
Making the cut - Série no mesmo estilo de Project Runway com Tim Gunn e Heidi Klum (AMO!)
Cartas extraordinárias - vários autores
Esse livro é incrível! Uma coleção de cartas extraordinárias. Me inspirou muito a escrever. Eu não escrevo cartas à mão, mas deu vontade de começar. Escrever é guardar, e escrever cartas é guardar um pouco da história (a nossa e a do nosso tempo).
A ridícula ideia de nunca mais te ver - Rosa Montero
Um dos livros mais lindos que eu li esse ano.
"Todo ser humano é um romancista e, por conseguinte, eu sou uma redundância, pois ainda por cima me dedico à escrita. Escrevo romances cujas peripécias não têm nada a ver comigo, mas que representam fielmente meus fantasmas. E agora que com este livro tentei dizer sempre a verdade, talvez tenha feito, na realidade, muito mais ficção. Porque, como diz Iona Heath, “encontrar sentido no relato de uma vida é um ato de criação”."
Novo Episódio:
Possibilidades - Wislawa Szymborska
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
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Com amor,
Bruna Berger Roisenberg