Newsletter Instante Perecível #36
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível.
nesta célula viva
de um pouco de tudo que sou
eu venho me apresentar
sim, estou sempre falando de mim
mas venho te contar um pouco da minha história
o que faz com que eu seja eu
as coisas que eu amo
te trago também poesia, livros e afetos
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral. "Eu já estava no caminho certo para me tornar uma verdadeira estranha, porque sempre soube que escolheria ir aonde o meu coração batesse mais forte, em toda e qualquer direção." p. 139
O feminismo é para todo mundo, bell hooks
Como é difícil me apresentar. Eu estou sempre mudando, então uma apresentação única não faria sentido. Eu não sou, eu estou. Mas vou tentar contar um pouco da minha história. O que conto é realidade e ficção, essa narrativa de mim mesma que está sempre se reinventando. Presta atenção, o que eu não conto também revela quem eu sou, e algo sempre escapa, até para mim mesma.
Meu nome é Bruna, mas você já deve saber disso. Eu nasci em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a terra do pôr-do-sol, do chimarrão, e de vários do meus escritores preferidos (alô Caio F., Mário Quintana, Érico Veríssimo, Martha Medeiros, Eliane Brum, Cris Lisbôa…). Eu sou filha de um professor universitário e de uma bibliotecária. Meus pais se mudaram para Florianópolis quando eu tinha 3 anos. Meu pai veio fazer o doutorado e nunca mais quis ir embora. Meu irmão nasceu manesinho quando eu tinha 4 anos e 7 meses, e posso falar com toda a certeza do meu coração que foi o melhor presente que os meus pais já me deram. Moramos todos em Floripa desde então.
Crescendo, eu sempre brinquei de dançar, de escrever, e de dar aulas. Com 4 anos meus pais me colocaram nas aulas de Ballet (afinal, não me aguentavam mais dançando pela casa), dança que me acompanha até hoje. O Ballet foi meu primeiro contato com a arte como forma de expressão. A dança é uma casa segura para sentir, espaço de falar com o corpo todo. Eu sempre fui muito expansiva e falante, mas também tinha os meus momentos de quietude. Reza a lenda que eu podia ficar horas na frente da televisão, quietinha, sem chorar. Os meus pais trabalhavam na universidade, que era um ambiente que eu amava frequentar (amo até hoje). Nas férias do colégio eu ficava na biblioteca com a minha mãe ou ia assistir umas aulas do meu pai. Eu me lembro de brincar de escrever, mesmo antes de saber escrever. Eu também lembro do meu pai lendo Harry Potter para mim, até eu pegar o gosto e o jeito de ler sozinha. Acho que peguei gosto até demais pela literatura.
Eu costumo considerar que eu sou o que eu amo, então eu sou feita grande parte de arte e literatura. A palavra, essa célula viva, de vida, me acompanha na minha profissão, nos meus momentos de lazer, nos meus sonhos, e em tudo que eu sou. Os livros sempre foram uma companhia amorosa. Um dos momentos mais marcantes da escola foi a leitura do “Pequeno Príncipe”, depois encenado em uma grande apresentação. Na adolescência eu também lia muito. No ensino médio fui uma das poucas pessoas da turma a ficar empolgada lendo Machado de Assis nas aulas de literatura. Eu me lembro de ir visitar o curso de psicologia, quando eu ainda estava no terceirão do colégio, e perguntar para a coordenadora do curso (que depois virou minha orientadora de mestrado): “O que é preciso para se tornar uma psicóloga?” - e ela respondeu: “É preciso gostar de ler.” Pronto, ali, naquele instante, eu decidi: vou fazer psicologia.
Mas nem só de livros vive esse coração sonhador e desejante. Na faculdade eu sonhava em fazer um intercâmbio. Morar fora, ganhar autonomia e independência, explorar o mundo (e o meu próprio mundo, como eu acabei descobrindo). Fui fazer um semestre da faculdade de psicologia na Austrália, e essa experiência me marcou profundamente. Chega a ser difícil encontrar palavras para te contar o quão importante foi essa viagem na minha vida. Ainda sigo tentando narrar esses momentos com saudade e emoção. Quem sabe um dia a gente se encontra e eu te conto mais desse tempo, com o brilho nos olhos de quem viveu algo muito transformador.
Voltei da Austrália, terminei a faculdade de psicologia e logo passei no mestrado em saúde mental. Ao mesmo tempo eu comecei a atender no consultório. Hoje eu trabalho como psicoterapeuta e orientadora profissional, esse ofício lindo de acompanhar as pessoas na travessia do sofrimento e no encontro com elas mesmas. É muito gratificante ver cada um abraçando honesta, verdadeira e generosamente quem se é.
Com a pandemia de Covid-19 e o isolamento social pude fazer um mergulho muito profundo em mim mesma. Foi aí que a escrita voltou a ser protagonista na minha vida. Escrevo - quase - todos os dias, e já estou no meu segundo curso de escrita (alô Cris Lisbôa e Aline Valek). Eu nunca li tanto na minha vida, e a literatura tem sido um barco que me leva a fazer a travessia de volta para mim mesma. Para compartilhar um pouco desse amor com o mundo, eu criei o podcast Literapia e a newsletter Instante Perecível, onde eu compartilho um pouco do que eu tenho lido e escrito. Eu também dou cursos de ‘escrita de si’, tema que eu tenho pesquisado muito para um possível doutorado (quem sabe?). Esses encontros permeados pela escrita e pela literatura têm preenchido o meu coração de alegria e pulsão de vida.
Isso é um pouco da minha história, que eu continuo escrevendo todos os dias com muita arte e poesia. Eu sou um texto que nunca acaba, palavra infinita.
Me vesti de horizonte
para criar caminhos
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Série baseada nos livros da Elena Ferrante. Amei, maratonei e já espero ansiosa a terceira temporada.
Essa ilustração e crônica do Ivan Jerônimo - "Centro de Convivência (UFSC): lembranças que vêm com o desenho."
PALAVRA (s.f.) #8 – Na pele e no papel - Conversa com Ana Holanda
Errata da news #35: AQUI o link correto do poema da Claudia Vetter
A estrangeira - Claudia Durastanti
"A linguagem é uma tecnologia que revela o mundo: as palavras são pequenas chamas que aproximamos do indizível para que apareçam, como se a realidade estivesse escrita numa tinta simpática, e quando não há palavras, são os gestos que fazem com que a tradução seja possível."
"Tentamos extrair alguma força da sua experiência porque, mesmo na ruína do seu corpo e da sua solidão, nos ensina que, mesmo sozinho, se sobrevive e é isso o que mais tememos, o medo que nos intimida mais do que todos os outros: descobrir que de verdade, sozinhos e distantes, sobreviveremos do mesmo jeito."
Bobagens imperdíveis para atravessar o isolamento - Aline Valek
Livro de pequenas crônicas (maravilhoso!), bem gostoso de ler nesses tempos pesados.
Novo Episódio:
Olhos parados - Manoel de Barros
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg