Newsletter Instante Perecível #40
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível (ou do impossível).
aqui
onde eu danço com as palavras
e faço delas memória
fora do corpo
eu escrevo
com o corpo todo
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
Eu sempre fui uma criança muito expressiva e dançava pela casa ao som de qualquer música que estivesse tocando. Meus pais me colocaram nas aulas de ballet quando eu tinha quatro anos, e desde então dançar é para mim como respirar. A dança é uma forma de expressão, uma linguagem falada pelo corpo, que tantas vezes traduz sentimentos melhor do que qualquer palavra. Todo final de ano a minha escola de ballet se apresentava no CIC (um dos teatros da cidade). Ainda posso sentir a emoção de pisar no teatro, o espaço sagrado da arte e da criação.
Chegando no teatro para as apresentações, eu entrava por uma portinha especial, nos fundos, que me levava direto para os camarins. Ali, as conversas eram de cumplicidade, o cheiro de laquê era forte - para domar nossos cabelos nos coques - , e ainda treinávamos alguns passos da coreografia. No final do corredor dos camarins tinha uma porta grande, um portal, que nos levava direto para o palco. Esperávamos ansiosas a nossa vez de atravessar a porta para essa outra dimensão. Quando o momento finalmente chegava, eu entrava em outra frequência. O ar tinha um peso diferente, e o cheiro era o melhor do mundo (mistura de madeira, linóleo, breu, pipoca e antecipação).
Depois da porta ficavam as coxias, o meu lugar preferido. A coxia é o espaço do entre. Entre o palco e os bastidores do teatro. Entre a expectativa e a realidade. Entre os ensaios e a apresentação final. Entre atos. Entre o último suspiro e o passo para o vazio - infinito - de um palco. Entre. Ainda posso sentir na pele o mesmo arrepio de quando eu pisava no palco, agora. A pele guarda a memória viva como presença. O coração bate mais rápido e o mesmo sentimento de expectativa percorre o meu corpo.
A coxia é o melhor lugar do mundo para assistir um ballet. Na coxia fica o botão para abrir as cortinas do palco. Da coxia é possível sentir o calor da iluminação e dos corpos em transe. Da coxia é possível ver a respiração dos bailarinos, seus olhares, e as gotículas de suor que brilham contra a luz. A coxia guarda os detalhes mais importantes da dança, àqueles que ninguém vê. O final de uma coreografia e os abraços dos bailarinos. As trocas de figurino. A professora do baby class mostrando os passos para as crianças pequenas. Os aquecimentos antes do palco. As trocas de “merda”, “merda para ti também” - para dar sorte. E os olhos curiosos de uma pessoa que ia amar esse lugar para toda a vida.
Quantas histórias guarda uma coxia? Quantos sussurros? Quantas lágrimas? Quanta espera? As coxias guardam hoje a minha saudade. Guardam o instante antes do salto, o último suspiro antes da dança. O meu coração de bailarina.
"Ballet In the Wings" por Douglas Hay
sente, deseja
abastece os músculos
com gasolina de sonhos
volta a dançar
reencontra a dança que mora em ti
sem ter que calejar os pés
apertá-los em sapatilhas
sem aprisionar o corpo
em pressões (prisões) estéticas
te abre aos ventos
como os pássaros
o mundo é teu
enquanto tu vives
e dançar a vida é mais gostoso
e lembra
que para dançar
foi preciso aprender
os passos
e depois aprender
a esquecer os passos
e só saber
da vida que dança
pelo corpo vivo
...
Por Bruna Berger Roisenberg
As águas-vivas não sabem de si - Aline Valek
Depois deste livro eu nunca mais vou olhar para o mar da mesma forma. Amei a leitura e sou cada dia mais fã da Aline Valek.
"A vida, claro, sempre arrumou uma forma de continuar. Coisa teimosa, ela."
A importância do ato de ler - Paulo Freire
"A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto."
Paulo Freire é leitura fundamental, principalmente nestes tempos sombrios que vivemos
Maid - série da Netflix
Nem preciso dizer que eu AMEI! Vem ver esse post sobre a série e a escrita de si
Paulo Freire: vida de professor - 451Mhz podcast
Entrevista com Aline Valek sobre o livro "As águas vivas não sabem de si" - Jantando na taverna podcast
Novo Episódio:
Tudo é rio - Carla Madeira
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
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Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg