Newsletter Instante Perecível #44
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível (ou do impossível).
é difícil amar neste mundo imperfeito
eu sei
mas é possível
imprescindível
então eu te conto aqui
o que me encanta
as paisagens que me habitam
os passos que dou
para onde a minha alma chama
e os livros que me fazem mergulhar
aqui
eu penso com doçura
volto para casa
e escrevo para lembrar
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral. Depois do vidro,
perdida da sua própria imagem,
a paisagem ainda mora toda em mim.
E eu, já, nela.
Mia Couto
Ontem* eu dei mais um passo rumo à vida. Assim, sem adjetivo: vida. Eu pensei em dizer vida normal, vida real, vida sonhada. Pode ser tudo isso mesmo. Mas, ao mesmo tempo, esses últimos 2 anos também foram de vida. Outra vida. A vida possível, ou impossível, não sei.
Eu coloquei a minha máscara pff2 e um tanto de coragem no peito para ir encontrar 5 amigas do clube de leitura. Confesso que até a hora de sair de casa eu ainda pensava em desistir. Ficar em casa se tornou um lugar tão seguro, tão confortável, que sair ainda é muito difícil para mim. Há alguns meses cheguei a ficar com as pernas bambas de nervoso em uma loja. Há duas semanas encontrei uma conhecida na saída do consultório e me apatetei toda. Não sabia o que falar, o que fazer. Me senti a maior estranha do mundo, e cheguei a achar que eu não sabia mais viver com as pessoas de carne e osso. Ainda bem que tudo é processo, e passa.
Esses acontecimentos (ou desacontecimentos) ainda me assombravam ontem. Mas eu fui. A leitura do livro era só um pretexto, o bom mesmo foi o encontro. As boas surpresas já começaram na escolha do local. O casarão da botânica da UFSC. Um lugar que parece ter saído de um conto de fadas. Meus olhos não sabiam para onde olhar, tamanha a beleza. Uma variedade incrível de flores e folhas enchiam os meus olhos - coitados, ainda tão desacostumados com qualquer visão que não as paredes de casa. O mais curioso é que eu estudei quase 6 anos do lado (literalmente do lado) desse lugar encantado, e eu não o conhecia. Como se ele estivesse escondido em um portal, atrás de um guarda roupa ou de uma parede da plataforma da estação de trem. A vida tem brechas no que já é conhecido, esperado. Ainda bem.
Casarão da botânica da UFSC
Conhecer esse lugar mágico neste encontro foi um presente. Sentamos na grama, em cima de cangas, e eu me lembrei que era exatamente isso que eu mais gostava de fazer em Melbourne, no meu parque preferido. O passado invade o presente e me toma de corpo todo.
Imagens do meu parque preferido em Melbourne, o Central Gardens em Hawthorn.
Em 2015, quando eu fui fazer meu intercâmbio na Austrália.
Eu estava lendo Jogos Vorazes pela primeira vez, e ainda não era duvidoso (vergonhoso?) exibir uma bandeira do Brasil por aí.
No grupo de leitura falamos sobre o livro 'A cachorra', mas não só. Os assuntos sobre vida e arte foram se entrelaçando numa dança bonita e num ritmo difícil de imitar nos encontros online. A minha sede por conversa-olhos-nos-olhos era tão grande que algumas vezes eu fechava os olhos, paradoxalmente, tentando bater uma fotografia mental desse instante. A luz do final de tarde foi mudando, e eu sentia que estava exatamente onde eu deveria estar. De volta para casa. Outra casa fora de casa.
O encontro acabou e eu fiquei com sede de quero mais. Escrevo agora com a sensação de que vivi um sonho, e talvez tenha sido mesmo, um sonho acordada.
*texto escrito em 14/11/2021
Mais imagens desse dia incrível com o grupo de leitura.
moro numa ilha
e não vejo o mar
imagino casas improváveis
onde não irei morar
presa entre paredes sólidas
ouvindo os gritos das ondas
tenho fome de vida
as migalhas não me satisfazem mais
saboreio o que eu sinto
acordo do sonho
onde é que eu estou?
preciso saber
com os pés gelados
sobre o concreto
encontro a morte
e não posso mais esperar
eu não sei para onde eu vou
para onde a alma chamar
...
Por Bruna Berger Roisenberg
Leituras marítimas para se afogar em emoções:
A vida submarina - Ana Martins Marques
eu comprei esse livro no meu primeiro passeio na livraria
em um ano e meio de pandemia
e eu não podia ter escolhido lugar melhor
livro melhor
pois a poesia é o meu barco
atravessa ondas
vence tempestades
e me leva de volta
para mim mesma
a poesia me faz mergulhar
no mar profundo que sou
onde encontro minha vida submarina
onde consigo, enfim
respirar
Dentro de ti ver o mar - Inês Pedrosa
"as coisas essenciais são simples"
escreveu Inês Pedrosa
no seu livro
dentro de ti ver o mar
que é um poema
e eu concordo com ela
"só a visão da praia já nos torna pessoas melhores."
a visão do mar
o mar de dentro
que também é imenso
nossas ondas
e calmarias
toda uma vida
nas profundezas
em palavras neste livro
"O corpo sabe mais do que é possível dizer."
Seda - poesia de Ana Martins Marques no livro 'A vida submarina'
E se a emoção transbordar? - Cris Guerra e Cris Lisboa conversam sobre a escrita de si na feira do livro de POA
Perdemos tanto - coluna de Natalia Timerman
Young Sheldon - nova temporada! Eu adoro essa série (que é spin off da The Big Bang Theory).
Novo Episódio:
As águas-vivas não sabem de si - Aline Valek
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg