Newsletter Instante Perecível #47
Newsletter Instante Perecível
Olá pessoa querida, espero que essa news te encontre bem, dentro do possível (ou do impossível).
Chegamos na nossa última news do ano! (e eu confesso que mal posso acreditar que o ano já está acabando). Foram 47 edições da news, um livro, muitas poesias, escritos, afetos, livros lidos, sonhos, e um amor: palavra.
Eu amei passar o ano todo contigo. Muito obrigada por me acompanhar toda semana com tanto carinho. Você foi meu abraço quando eu mais precisava.
Eu vou tirar férias nas próximas semanas, mas em janeiro estou de volta para nos reencontrarmos. Que a passagem do ano seja de paz, e que esse novo ciclo que começa seja de muita luz e muita saúde. Para melhor, amor, muito amor.
...
aqui
eu te escrevo sobre florescer
mesmo diante dos desacontecimentos da vida
pois tudo é ciclo
de vida-morte-vida
aqui
escrevo para me reencontrar
e para te encontrar
palavra
que cura
que salva
aqui
eu te digo
ainda é tempo de sonhar
Vem comigo?
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral. Na casa da minha avó crescia uma flor vermelha. Ela parecia um fogo de artifício, algo difícil de descrever em palavras. Ela florescia uma vez ao ano, perto do Natal, daí o nome: Flor de Natal. Quando nos mudamos de Porto Alegre para Florianópolis, minha mãe trouxe com ela diversas mudas da flor, que hoje cresce aqui no quintal. Aliás, fazem umas duas semanas que floresceu, majestosa, bem no seu tempo.
Essa flor sempre me encantou, tanto pelo seu formato, suas cores, como pelo seu significado. Todo ano eu me sinto florescer junto com ela, na mesma época. É um movimento de vida que floresce em mim, que eu projeto na flor. É o cheiro do verão no ar, uma nova estação, o ano que termina. A flor é a imagem viva do tempo que passa e os seus ciclos. Tem tempo de morrer. Tem tempo de nascer.
Há alguns anos eu passava por um período difícil. Eu tinha acabado de voltar do intercâmbio, terminava a faculdade, e estava no processo seletivo para ingressar no mestrado. No meio de tantas mudanças, a vida parecia ter perdido o encanto. É que eu sempre vivi com intensidade o luto dos ciclos que se fecham. Custava confiar no processo de mudança, me apegava ao passado e ao ciclo que precisava terminar. E isso doía muito. Eu voltei para o meu processo terapêutico, e ali, onde a vida ainda insiste em renascer, eu me reconectei com o meu amor pelas palavras.
Eu peguei o livro 'Meus desacontecimentos' da Eliane Brum para ler. Ou ele me pegou, como eu gosto de pensar. O livro me pegou no colo e me deu um lar de palavras para todos os desacontecimentos que eu também vivia naquele tempo. Até que eu chego no capítulo do livro intitulado Útero (que eu te envio abaixo).
Pronto, ali eu tive certeza que algo profundo me conectava com a Eliane. Confesso que cheguei a achar que éramos parentes (e essa é uma história engraçada sobre as coincidências da vida). Só podia ser: gaúchas e conectadas com a mesma flor! Liguei para a minha avó (que tinha uma irmã de criação chamada Vitalina!) para investigar o possível parentesco. Pelo jeito Vitalina era um nome comum na época. Descobri que a Eliane não era minha parente, um pouco decepcionada, devo dizer. Mas tomada pela beleza das palavras dela, pude me reencontrar comigo mesma e com a minha história. Fui correndo para o jardim, e uma Flor de Natal florescia. Bem a tempo de ver a vida renascer dentro de mim também.
Essa é a minha flor preferida. Scadoxus multiflorus. A flor vermelha que é vida para mim, para a minha avó, para a minha mãe, para Vitalina e para Eliane.
Scadoxus Multiflorus - Flor de Natal
Por Eliane Brum, no livro 'Meus desacontecimentos'
quem nunca guardou um flor
dentro de um livro
não sabe o que é tentar segurar
a eternidade
...
Por Bruna Berger Roisenberg
• O mundo desdobrável - Carola Saavedra
o mundo é desdobrável
aprendi com @_carolasaavedra
que escreveu esse livro-acontecimento
que me escreveu
e eu escrevo agora
para não passar despercebida pelo mais importante da vida
as palavras criam universos
as palavras tem alma
e esse livro é mais do que pele de árvores mortas
é também pele de gente viva
um sonho que se sonha acordado
um oráculo que revela um pouco de tudo que sou, que somos
até o que desconheço de mim
e ouso dar nome ao silêncio
pois a palavra cura
a palavra salva
• A cabeça do santo - Socorro Acioli
Que alegria conhecer a escrita de Socorro! Virei fã, acompanho todas as colunas e espero ansiosamente o próximo livro.
"—E Rosário?
—O que é que tem?
—Não quer encontrar Rosário?
—A cabeça tá cheia de bomba. Como é que eu posso entrar lá pra escutar notícia dela? Acabou, Chico Coveiro. Não nasci pra final feliz.
—Final, final mesmo, Samuel, é só quando eu baixar teu caixão na cova. Ainda dá tempo.
—Tu sonha muito, Chico.
—Foi a morte que me ensinou. O tempo de sonhar é em cima da terra."
Eu, minha mãe e meu irmão fomos doar nossos cabelos na AVOC - Associação de Voluntários do Cepon. Estamos de cabelos cortados e a alma lavada.
Escrever é um ato solitário - por Ana Holanda
Duna - Filme da HBO (Já estou louca para ler o livro!)
Novo Episódio:
Clarice Lispector - Especial de aniversário
O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
Que bom te ter aqui comigo!
Sugestões, palavras de amor, críticas e tudo o mais, é só me falar. Vou adorar te escutar.
Se você perdeu as últimas news, pode ler elas aqui!
Te cuida e cuida dos teus amores!
Com amor,
Bruna Berger Roisenberg