Newsletter Instante Perecível #55
Newsletter Instante Perecível
neste carnaval da guerra e da gripe
te escrevo para sonhar um amanhã
com a alma nas mãos
e o peito de histórias
adio o fim do mundo
um instante de cada vez
Vem comigo?
Morning, 1954, por Tetyana Yablonska, pintora Ucraniana
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral.
O carnaval da guerra e da gripe. Esse é o título do livro do Ruy Castro*, mas poderia ser o título do resumo desses dias. Estamos vivendo o carnaval da guerra e da gripe. Na guerra e na gripe. O livro fala do carnaval de 1919, em que passada a onda de pânico com a pandemia da Gripe Espanhola, aqueles que sobreviveram saíram às ruas para celebrar, fazendo o maior carnaval que o Brasil já vira até então. Porém, a nossa realidade não é essa. Estamos vivendo um dos carnavais mais tristes que já vimos. A Rússia declarou guerra à Ucrânia e a pandemia de Covid-19 ainda nos assola e assombra.
Eu estou cansada, sinto um “cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço”, como escreveu Álvaro de Campos. Um cansaço de tomar conta do mundo, como diria Clarice. Eu vou buscando em outros textos as palavras para o que sinto. “Há desses dias em que, do interior do meu próprio cansaço, desponta um grito de revolta e contrariedade: isso não basta, preciso sentir mais, desejar mais, viver mais”, escreveu Julian Fuks.
Agora, olhando essas palavras no papel, é que eu me dou conta do tanto que eu sinto. E no meio de tanto cansaço (que é tristeza, raiva e medo tudo misturado e não muito bem expressos), ainda preservo gritos de vida, todos os dias. Escrever é a minha forma de parar, refletir e sentir, na contramão da correria dos dias. Escrevo, medito, caminho, tentando segurar a minha alma nas mãos, que tem rosto de criança e um coração selvagem. Leio e conto mais uma história, tentando adiar o fim do mundo. Começo os meus dias com poesia, para acordar por dentro, pra vida. Eu sonho, insisto em sonhar um sonho grande, um sonho meu, que acelera o peito e me faz vibrar.
A passagem do tempo já é um acontecimento por si só. Estamos em março. O ano corre na velocidade das redes. Um feed infinito de instantes que passam e poucas coisas ficam na pele da memória. Coloquei o meu melhor perfume para te escrever neste domingo de (não) carnaval. Por dentro da guerra e da gripe, seguimos, adiando o fim do mundo um instante por vez.
*A Companhia das letras transformou o prólogo do livro Metrópole à beira-mar de Ruy Castro em um e-book.
"Sim, o mundo está absurdamente esquisito. Já ninguém confia nas imposições dos prefeitos, a esta hora na terra é um tanto carnaval, um tanto conspiração, um tanto medo. Metade fé, metade folia, metade desespero. E, provavelmente, a esta hora, uma metade do mundo está vencendo e a outra metade dormindo, há ainda outra metade limpando as armas, outra limpando o pó das flores. Mas por causa do que me ensinou o místico, eu acredito que exista, agora, alguém profundamente acordado. Alguém que esteja vivendo entre o intervalo tênue entre o sonho e a agilidade. Suponho que ele saiba perfeitamente que este começo de século será nosso batismo do vôo para nossa persistência no amor."
Matilde Campilho, Fevereiro.
• Ego (conto) - Aline Bei
Um livro-conto lindo, com mais uma personagem que carrega uma caixinha de música triste no peito.
Amo tudo o que a Aline escreve, pois ela toca na poesia da vida que insiste em ser vivida, apesar de tudo.
• Tudo é rio - Carla Madeira
Ainda sem palavras para dizer o quanto eu me emocionei com esse livro. Lindo demais!!
"A gente passa a vida pelejando com o dilema de existir ou desistir, com o que é bom e o que é ruim, o certo e o errado, a morte e a vida. Essas coisas não se separam. O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado. Então, pede para a parte boa dar conta da parte ruim."
Seu melhor caminho é o próximo - documentário sobre a travessia da Tamara Klink no Globoplay. Para chorar um mar inteiro. Sou cada dia mais fã da Tamara!
Biblioteca do Ailton Krenak - Uma iniciativa da comunidade Selvagem para catalogar, organizar e acessibilizar as falas do Ailton Krenak.
Segunda temporada do Paciente 63 - protagonizada por Mel Lisboa e Seu Jorge, Paciente 63 é um podcast Original Spotify.
Novo Episódio:
Do tamanho do mundo - Leandro Belinaso
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Bruna Berger Roisenberg