Newsletter Instante Perecível #59
Newsletter Instante Perecível
aqui
encontro o meu lugar
nas palavras
e entre tantas perguntas
sem respostas
vou confiando nas interrogações
para abrir caminhos
Vem comigo?
Arte de Waldemar Strempler - via Erika Lancaster
Sessão com título Clariceano para compartilhar com você um texto autoral. Qual é o meu lugar no mundo?
Eu tenho um lugar?
O lugar onde eu nasci não é mais o meu lugar?
O lugar onde eu moro ainda é o meu lugar?
Os lugares que foram minha casa ainda são os meus lugares?
Os lugares que eu só sonhei conhecer podem ser os meus lugares?
E aquele lugar que eu passei e mal prestei atenção?
Eu tinha lugar ali?
Tem lugar no mundo para mim?
O mundo tem lugar em mim?
Eu posso estar em mais de um lugar ao mesmo tempo?
O tempo está guardado nos lugares?
Os lugares mudam de lugar?
Eu posso ter um lugar para chamar de Meu Lugar?
Os meus lugares ainda moram em mim?
Ou sou eu quem morei nos lugares?
Pessoas são lugares?
O meu corpo tem lugares?
É possível ter mais lugar no meu peito?
A minha cabeça já está apertada de lugares?
Os meus pés ainda vão conhecer muitos lugares?
E quais desses lugares são os meus lugares?
Uma vez o meu lugar, sempre o meu lugar?
Quantos lugares tem uma casa?
Quantos lugares preferidos eu posso ter?
Um instante no tempo é um lugar?
Esse cheiro de chuva é um lugar?
E se eu morar nos teus olhos, eu encontro o meu lugar?
Os desencontros também são lugares?
E isso lá é lugar de fazer tantas perguntas?
...
Eu sou movida por perguntas. Há em mim uma curiosidade que pulsa, que deseja saber. Na minha profissão, aprendi logo cedo que não podemos supor que sabemos coisa alguma (o que o outro nos diz, sua vida, seus sentimentos, o que aconteceu). É preciso não supor muito rápido que entendemos, que compreendemos. Nestes anos fui aprendendo a abandonar os meus supostos saberes para perguntar, questionar, para ampliar o que o outro me diz, ainda sem pretensão de compreender nada ou de esgotar qualquer assunto. Aprendi a amar as perguntas mais do que as respostas. Elas sim abrem caminhos, fazem pensar, sentir, sonhar, olhar novamente para aquilo que parecia familiar, estranhar, transformar. Cada pergunta é como um portal, e é preciso coragem para perguntar certas coisas, adentrar em si paisagens desconhecidas. Se hoje eu me pergunto sobre lugares, são eles que eu busco, e valorizo mais a busca, querendo e não querendo encontrar os tais lugares, ao mesmo tempo.
• Bonsai e A vida privada das árvores - Alejandro Zambra
Esse foi o meu primeiro contato com a escrita de Zambra. Gostei muito, e já quero ler 'Poeta chileno' dele.
"[...] suportar nossa parte da noite, saber levar nossa porção de noite, carregar nossa parte da noite, suportar a escuridão."
• 15 contos escolhidos - Katherine Mansfield
Eu pude finalmente compreender a admiração de Clarice Lispector e Virginia Woolf por essa escritora.
"Embora tivesse trinta anos, Bertha Young ainda passava por momentos como aquele, quando queria correr em vez de andar, dar passos de dança subindo e descendo da calçada, brincar de rolar um aro, jogar algo para cima e apanhar no ar ou ficar parada e apenas rir – à toa –, simplesmente rir à toa. O que fazer se você tem trinta anos e, ao dobrar a esquina da própria rua, de repente é tomada por uma sensação de êxtase, êxtase absoluto! – como se tivesse engolido um pedaço luminoso daquele sol da tarde e que ardesse em seu peito, irradiando uma chuvinha de centelhas em cada partícula, até cada uma das pontas dos dedos...? Ah, não há maneira de explicar isso sem soar “embriagada e confusa”? Como a civilização é estúpida! Por que ter um corpo se é preciso mantê-lo fechado em um estojo como um raro, um raríssimo violino?"
Emicida no LulaPallula - “A gente merece um país do tamanho do nosso sonho”
E a Anitta, hein? - Maravilhosa, #1
A razão por que se abre um livro
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O podcast Literapia foi criado para compartilhar trechos de escritos que eu amo. Lá tem algumas meditações, poesias, palavras-abraço para todos os gostos. Você também pode me seguir no @literapia.podcast
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Com amor,
Bruna Berger Roisenberg