Abril/2024
Esse mês, em algum dia, a temperatura vai cair, de repente. Talvez seja amanhã mesmo, eu não sei. Terei de tirar os casacos do armário, e vou sonhar com os dias de calor. As manhãs são mais longas e os dias terminam mais cedo. Outono é estação da alma, escreveu Drummond. Concordo. Já sinto uma familiaridade estranha com os ciclos do lado de cá. Ainda sinto um estranhamento familiar todas às vezes que ando pelas ruas do centro. Os Magpies estão fazendo seus ninhos. Eu também. Pelo menos tive tempo de dar um último mergulho no mar em Coffs Harbour. Mergulho num livro lindo e triste que Marina Salomão Carrara escreveu. Uma melancolia me aperta o peito. Até descobrir que o que eu precisava estava na voz de Caetano e Betânea. Que sorte a minha ser brasileira. A grandeza da suavidade. Uma delicadeza arrebatadora. Minha pele-alma não economiza arrepios. O mesmo aconteceu quando vi Gil aqui na Austrália. Me sinto tão perto de mim, mesmo tão longe do meu país.
Julho/2024
A temperatura caiu, faz tempo. Estou usando todos os meus casacos e sonhando com os dias de calor. Os dias voltam a ficar um pouquinho mais longos, e isso me anima. Me sinto longe de mim quando estou longe da escrita. Ainda vivo de caderninhos, ainda escrevo por dentro. Escrevo pro doutorado, e essa está longe de ser uma escrita prazerosa. Os meses voam, e, ao mesmo tempo, cabe uma vida inteira no que vivi no último ano. Parei de escrever aqui pois acho que não sei mais escrever sobre outra coisa que não a vida no entre. Ainda há instantes perecíveis que quero guardar. Mas há instantes que quero só meus. Desvinculei meu escrever de publicar, compartilhar, e isso tem muitas vantagens e desvantagens. Há dias em que tudo parece igual. Há dias que não sei me traduzir. Me permito recomeçar. Retomar um tantinho dessa escrita apaixonada que ficou morando aqui, sozinha, desde abril. Talvez esse texto seja um breve “Oi, sumida”. Talvez esse texto seja a retomada desse lugar que guarda tanto da minha vida, dos meus sonhos, das minhas paixões. Ainda não sei, mas acho que devo essa tentativa para mim mesma.
Que gostoso saber mais um pouquinho de como anda a vida do outro lado, Bruna ❤️ acho que o gostoso de uma newsletter sem frequência fixa é isso: a gente publica quando der vontade, quando quiser compartilhar sentimentos, emoções.
Mais ou menos frequente, sempre gosto de te ler, de sentir um pouco mais do que você sente nessa experiência especial de estar longe do Brasil, mas levando sua cultura sempre perto no coração.
Um beijo e um abraço apertado! Te enviando um pouco do calor aqui da Europa ☺️