"Coragem, na verdade, deve ser somente isso: um entusiasmo pelo que ainda vem."
O que ela sussurra - Noemi Jaffe
Há mais coisas que eu não sei do que coisas que eu sei. Talvez a única coisa que eu saiba é que vou viver com saudades. Estou tentando fazer uma vida caber numa mala de 23 kg. Impossível. A vida não foi feita para caber, ela transborda. Ao mesmo tempo, há algo de muito poderoso em carregar a vida nas mãos. Minha vida está em 3 continentes, escolhi viver no entre. Deixo meus livros para trás, mas estou levando 2kg de caderninhos. Fiz uma regra de 3 (que eu nem sabia que eu ainda sabia fazer) e descobri que caderninhos = 8,7% da vida. Achei justo. A vida não será mais a mesma. Penso em digitalizar meus livros preferidos (kkkk, quando??). Fujo das despedidas. Resisto. Lembro o que escreveu Carina Bacelar, "para toda despedida existe um caminho de volta." Mas e o caminho de ida? Estou indo. Já estou lá. Quase não durmo, já vivo em outro fuso. Estou aqui, agora, e tudo o que eu quero comer é o feijão da minha mãe. A vontade de chorar não é mais uma urgência, até eu ouvir Milton Nascimento. Daí já era. Viro mar com "Mande notícias do mundo de lá…". No meio do mar do desejo, me entusiasmo com o que virá. Ouço da amiga da escritora que eu amo (que eu espero que também vire minha amiga) que Sydney é a mistura perfeita de Vila Madalena, praia e Lisboa. Não conheço combinação melhor que essa. A sorte tem me acompanhado pelo caminho. Coincidências improváveis, encontros que parecem armados em outro plano. Quero mudar meu insta. Deixá-lo menos psicóloga e mais Bruna. É que quando eu mudo, tudo tem que mudar. Isso não é importante, mas importa. Quem sou eu quando não sou psicóloga? Quem será a Bruna pesquisadora? E a Bruna estrangeira? (Essa eu sempre fui). Agora não, depois. Fico me adiando (o que já conheço de outros tempos). Já risquei Hotel Dallas da minha lista de afazeres. Penso que Hotel Dallas daria um ótimo nome de música/álbum/livro/filme/série. Me distraio facilmente. Ainda tem mais mil itens na minha lista infinita. É mil ou é infinito? Escrevo as contradições que eu sinto, que eu sou. Um dia a lista acaba? Abraço a falta, abraço a lista, abraço a saudade que já aperta o peito. Saudade, minha única certeza.
Tentei escrever essa news de forma organizada. Comecei por um começo sensato, ensaiei escrever outro texto que não esse fluxo de pensamentos e sentimentos. Não fluiu. Essa news não existiria hoje se não fosse assim: em forma de caos (o caos que habita em mim saúda o caos que habita em ti, e assim seguimos, caóticos, humanos, demasiadamente humanos).
Tentei começar escrevendo que eu pintei o olho do meu Daruma. O que significa um grande sonho sendo realizado. Eu ganhei meu primeiro Daruma em 2014. Foi um presente da Fabiola (professora querida e amiga amada que lê essa news) no final do meu curso de formação básica em Gestalt-terapia. Nas instruções dizia: “Formule seus objetivos e suas metas e pinte um dos olhos do Daruma. Com muita fé, persistência e meditação, seus objetivos serão realizados, nesta ocasião pinte o outro olho do Daruma como agradecimento.”
Eu pintei um olho do meu primeiro Daruma em 2014, pedindo que tudo corresse bem no meu intercâmbio para a Austrália. E deu tudo certo! Ainda tenho esse Daruma como símbolo de sorte, persistência e fé nos meus sonhos. O meu segundo Daruma eu comprei no final de agosto de 2022, no bairro da Liberdade em SP. Logo pintei um dos olhos. Pedi fé nos sonhos, e pedi que o meu PhD se realizasse. Essa época foi bem difícil. Recebi uma negativa de um PhD que eu queria muito e foi sofrido me reerguer e tentar novamente. Coloquei meu Daruma do lado do meu computador. Eu olhava pra ele todos os dias e pedia forças para continuar no árduo processo das seleções de doutorado e bolsas de estudo. Até que deu tudo certo! Essa semana, com tudo mais encaminhado e a passagem comprada, pintei o olho que faltava. Dia de celebrar as conquistas e de agradecer. Aí vai a foto dos meus Darumas da sorte:
O livro que eu mais gostei de ler essas semanas:
“Quem costura para escrever, ou escreve como quem costura. Toda escrita em Leonilson é, em primeira instância, um entrelaçamento de fios.”
“E por mais que a gente queira estar em todo canto a toda hora, a realidade é o único lugar e o único tempo onde pode um corpo pode sorrir para suas fronteiras.” Tamara Klink
Como usar o ChatGPT de forma inteligente e ética para pesquisa acadêmica: (ainda não testei, mas achei esse fio muito interessante!)
Que alegria te ter por aqui!
Comecei o texto me perguntando o que era um Daruma. Obrigada por enriquecer meu conhecimento, Bruna! Fiquei empolgada pra algum dia ter um Daruma pra chamar de meu e presenciar um sonho sendo realizado ✨
Continuo aqui, ansiosa pelos seus próximos passos 💛
amei o seu texto e parabéns pelo centésimo instante compartilhado <3
hoje também começo a montar as minhas malas para uma viagem de três semanas. sempre que me aproximo de uma viagem um aperto no coração toma conta dos meus dias... por mais que eu ame sair e conhecer/explorar algum lugar novo, tenho uma dificuldade enorme com aquilo que não se coloca na mala e fica para trás, me esperando. saudade é um bicho grande. assim como a felicidade que cada lugar novo me traz. é complicado. viver pelos _entres_ é uma aventura.