no Carnaval das malas e despedidas tem um desfile de saudade no meu peito me fantasio de futuro e o meu coração é uma bateria inteira
12 de fevereiro de 2023
Há 8 anos eu chegava na Austrália pela primeira vez. Há um ano eu fazia a prova do TOEFL (prova d5s9r4çad4 de proficiência em inglês que foi o primeiro grande passo em direção ao meu sonho de PhD). Em 2 semanas estarei embarcando para a Austrália para viver — possivelmente — a maior aventura da minha vida. Seria clichê demais escrever que se alguém me contasse tudo isso lá em 2014 eu não acreditaria. Mas o clichê serve aqui como uma luva. Eu não acreditaria. Eu duvidava até mesmo há alguns meses que tudo isso estaria acontecendo hoje. Duvidava, mesmo desejando tanto. Duvidava, pois eu tinha medo de desejar e não conseguir. Eu tinha medo do rastro de desordem que o desejo deixa. Eu tinha medo de desistir do sonho diante de tantos desafios no caminho. Eu duvidei, mas também acreditei e continuei desejando muito. Estou indo pro lugar que eu mais queria, com a bolsa de estudos que eu sonhei e super empolgada com o que virá (o PhD, a cidade, os amigos).
A prova do TOEFL foi o primeiro grande desafio dessa jornada em busca do PhD fora do Brasil. Eu já tinha uma carta de aceite condicional para outra universidade. Precisava tirar uma nota super alta, e por já ter feito essa prova 2 vezes antes (e em uma delas falhado miseravelmente) eu sabia o tamanho do desafio que me aguardava. Fiz 2 semanas de aulas intensivas e infinitos testes simulados. Na época eu mantive um diário (em inglês para treinar a redação da prova). Eu escrevi no primeiro dia de estudos:
29/01/22
“Dear diary,
What the hell am I doing? After 9 years and a lot of trauma, I am going to take the TOEFL exam again. Well, here I go. I still can't believe I am doing this. Today I started studying seriously. Almost the whole day. It's still very hard for me to do this. I promised myself I was not going to do this hell of a test again. But here I am, proving to myself once more that my dreams are stubborn. Hard to die is my will on my way to an interesting life*. I'm all invested in this plan of doing TOEFL. It can open so many doors (if I pass). I confess (feeling surprised) that I am having fun with this challenge. It's a way of visiting my past but making things differently. It's also something so important in my life to face my fears. I already feel stronger having decided to take the test. I pray that all the hard work will be paid. I also pray for strength, good humor, and also luck. That my way is illuminated with the power of the dreams that want to be lived.”
29/01/22
“Querido Diário,
O que diabos estou fazendo? Depois de 9 anos (e muitos traumas) decidi que vou fazer o TOEFL novamente. Bem, aqui vou eu. Ainda não acredito que estou fazendo isso. Hoje comecei a estudar seriamente. Quase o dia inteiro. Ainda é muito difícil para mim fazer isso. Prometi a mim mesma que não faria esse teste de novo. Mas aqui estou, provando a mim mesma, mais uma vez, que os meus sonhos são teimosos. A minha vontade de seguir o caminho para uma vida interessante (como diria Calligaris*) não morre tão fácil. Estou totalmente investida neste plano de fazer o TOEFL. Pode abrir tantas portas (se eu passar). Confesso (com muita surpresa) que estou me divertindo com esse desafio. É uma forma de visitar o meu passado, mas fazer as coisas de forma diferente. Também é algo tão importante na minha vida enfrentar meus medos. Já me sinto mais forte por ter decidido fazer o teste. Eu rezo para que todo o trabalho duro seja recompensado. Também rezo por força, bom humor e também sorte. Que meu caminho seja iluminado com a força dos sonhos que querem ser vividos.”
Os sonhos que querem ser vividos iluminaram meu caminho. Passei na prova! Mas não passei na seleção da bolsa de estudos. Isso aconteceu mais 3 ou 4 vezes ao longo desse último ano, sem contar todas as vezes que não passei nem para a etapa da entrevista. Foram incontáveis processos de seleção, com entrevistas, projetos de pesquisas, e muitas recusas pelo caminho. Às vezes era difícil continuar. Cada 'não' significava um recomeço. Olhando para trás eu me surpreendo com a minha persistência. A hora do sim chegou (finalmente) da melhor forma, na melhor hora. (ps: alguns ‘nãos’ ainda chegam por aqui de processos seletivos que ficaram em aberto). E eu te conto tudo isso para que você ouse sonhar também. O caminho não é fácil, a presença do medo é constante, dá vontade de desistir diversas vezes, mas a hora do sim compensa tudo. Como escreveu Clarice, “tudo no mundo começou com um sim”, no meu caso, o meu próprio sim para acreditar que era possível sonhar. E, com toda a fé que me cabe (e transborda) viver será melhor do que sonhar.
* “Não quero ser feliz. Quero é ter uma vida interessante. Ter uma vida interessante significa viver plenamente. Isso pressupõe poder se desesperar quando se fica sem alguma coisa que é muito importante para você. É preciso sentir plenamente as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta nos poupar de tudo o que é ruim.” Contardo Calligaris
18 de fevereiro de 2023
Em uma semana estarei embarcando para Sydney!
Essas semanas estão sendo de muitas despedidas. Lugares, pessoas, cheiros e gostos. Na quinta finalizei meus atendimentos na clínica (pelo menos por hora). Fiz meu último atendimento presencial no consultório que eu tanto amo e que construí com tanto carinho.
Quero engolir cada momento com os olhos, gravar na memória tudo de mais maravilhoso dessa vida. Cada encontro, cada abraço. Todas as palavras de apoio e carinho que recebi nos últimos dias me enchem de coragem. Muito obrigada a todes que aqui me acompanham e que vão comigo aonde eu estiver. Vamos juntes na travessia para viver os sonhos.
Os livros que eu vou levar na mala:
Uma das minhas angústias vai ser deixar meus livros. Como quem teme deixar uma parte sua para trás. Mas é esse mesmo o propósito dessa travessia. Me deixar ser outra, me deixar ser mais eu mesma, deixar a ilha pra trás, sair em busca da ilha desconhecida. Eu deixo uma parte minha em cada livro lido ou não lido. Em cada livro colecionado com tanto amor. Em cada página marcada com minhas anotações. Em cada livro que já li tantas vezes que já faz parte de mim. O livro físico fica. O livro vai comigo, pra sempre. Todas as crônicas, contos e cartas de Clarice. Uma edição de Laços de família que pertenceu à minha mãe (e que eu roubei da casa da minha avó). Todos os contos do Caio F. Os meus livros de poesia. Vou levar comigo Felipa Leal e o seu livro que me fez amar as quintas-feiras. Eu namorei esse livro por tanto tempo! Fiz ele atravessar o oceano para chegar aqui. Levar um livro com prática de atravessar oceanos me parece uma boa ideia. Também vou levar os livros da sardinha. Ela que inspirou tanto o meu desejo de crescer e partir (e escrever sobre isso). Comprei faz mais de ano e ainda não tive coragem de ler. Fico fazendo felicidade clandestina. Ainda acho que vou precisar de muita coragem no caminho, e sei que a Tamara vai saber pegar a minha mão com suas palavras. Vai comigo Guimarães e seu grande sertão, poetizando a travessia. Tenho certeza que vou bem acompanhada, com minhas bússolas e máscaras de oxigênio.
Grupo terapêutico para imigrantes com a maravilhosa psicóloga Lia Terra.
Aulas de bordado com a amiga linda Carol Grilo da FofysFactory
Um art journal lindooo
Que alegria te ter por aqui!
Me acompanhe também no (meu repaginado) instagram e no twitter
Bruna, que friiiio na barriga, meu Deus! Gostei de saber um pouco mais do background dessa história:) lembrei de você ontem quando ouvi aquela música (Turtle Song) do meu último post e descobri que ela é australiana de um povo aborígene. Talvez você goste da música dela também:) super beijo e bom carnaval brasileiro!
Fiquei entusiasmado com o seu entusiasmo, Bruna! Kkkk Que maravilha. Imagino como vc deve estar se sentindo! Nada que o tempo e a persistência não de um jeito nessa via... Todas as bênçãos dos deuses das boas venturas p/ vc nessa nova jornada do outro lado do planeta!!! E continue postando lá de down under!