Hoje faz uma semana que eu saí de casa para viver os meus sonhos. Me despedir dos meus cachorros e dos meus pais foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Me despedi deles pela primeira vez sem ter uma passagem de volta para casa. Me despedi sem saber ao certo quando eu vou vê-los novamente, sem saber que lugar eu chamaria de casa pelos próximos anos. Me despedi de uma vida para construir uma vida inteiramente nova.
A viagem foi longa, com um voo cancelado e uma parada inesperada em LA. Passei o dia em um hotel em LA para tomar um banho, descansar, e encarar mais uma viagem de 15 horas até Sydney. Esse primeiro contato com a minha solidão foi assustador. Deixei os medos, os cansaços e as saudades todas ganharem forma de choro. Ainda bem que eu não estava sozinha (apesar de estar distante de todas as pessoas que eu amo). Chorar em chamadas de vídeo com a minha família tem feito parte desse processo todo (eu espero que não mais por muito tempo)!
Viajando sozinha eu aprendi a puxar papo com qualquer pessoa. Conheci uma brasileira que ia ver a filha que está grávida, que ela não via há 4 anos. Ela foi no mesmo voo que eu, e ambas choramos ao sentir as rodinhas do avião encostando em solo australiano. “Welcome to Straya”.
Chegar aqui foi como voltar para casa. Senti um misto enorme de familiaridade e estranhamento. Tive que resgatar a coragem daquela Bruna que chegou aqui há 8 anos atrás, cheia de sonhos. Os primeiros dias são sempre os mais difíceis. Sinto falta da minha casa no Brasil, do conforto de conhecer tudo, dos abraços dos meus amores. Reconstruir uma vida requer muitas lágrimas e muita força para seguir em frente. Sem contar a saudade, essa palavrinha com 3 sílabas e 3 toneladas.
Mato as saudades daqui, morro de saudades de lá. Aqui e lá. Nunca ao mesmo tempo. Acho que estou fadada a uma eterna insatisfação. Sempre vivendo em um lugar querendo estar no outro. Dói não ter lugar, mas também me enche de alegria ter dois lugares. Duas casas, dois países, dois continentes, duas culturas, duas línguas. Pena que ainda não inventaram o teletransporte.
Das coisas boas: Meu apartamento é ótimo, fica a 30 passos do Coles. Já estou matando as saudades das comidas daqui. O sotaque Australiano não me é mais estranho. Minha flatmate é super gente fina, foi até me buscar no aeroporto e cozinhou janta para mim. Fui à Universidade de Sydney pela primeira vez e fiquei completamente em choque. Tudo é lindo, tudo é grande (e eu confesso que fiquei com uma certa ansiedade chamada “crise da impostora”). Senti o mesmo frio na barriga de 8 anos atrás ao ver a Harbor Bridge e a Ópera de Sydney. Encontrei uma amiga brasileira que mora aqui e que eu não via há anos. Meu quarto já está ficando com a minha cara. Arrumei as roupas no armário e guardei as malas. Os dias aqui estão lindos. Já aprendi a andar de ônibus e o meu Opal card de 8 anos atrás tinha 7 dólares. Tem um parque maravilhoso pertinho de casa, e uma pista de caminhada que circunda a baía. Hoje tomei a quinta dose da vacina da covid.
Os dias tem passado voando e ainda estou me acostumando com um fuso de 14 horas de diferença do horário do Brasil. Ainda estou me reencontrando nessas mudanças todas. Tenho pressa de encontrar alguma familiaridade, alguma rotina, de integrar a Bruna de lá (a Bruna de uma semana atrás), com a Bruna de agora. Não acredito que já faz uma semana que eu saí de casa. Parece que já se passaram meses de tantas coisas que eu já vivi. Abraço as incertezas e confio ainda mais no meu suporte para atravessar as mudanças.
(Finalmente estou conseguindo voltar a escrever!)
O livro que eu levei na viagem (mas que não estou conseguindo ler - é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo):
Que alegria te ter por aqui!
A coragem dos saltos sempre me encanta, Bruna. Te desejo um começo cheio de nostalgias e desconhecidos. Que seja uma montanha-russa mesmo, lembrando sempre de aproveitar o frio na barriga e os cabelos ao vento! Se a solidão bater em um ou outro momento, lembra de cuidar de você mesma. Às vezes, a gente esquece que também é casa. Um beijo com carinho 💛
Bruna, só consegui ler essa news hoje, porque como vc já sabe as últimas semanas foram intensas! E confesso que sempre imaginava se um dia iria aparecer na tua curadoria de afetos e ter visto meu título ali, encheu meu coração de alegria! Enquanto lia tudo, sentia que poderia ter sido escrito por mim! Aqui e lá, muitas lágrimas, tão familiar e tão distante! Tanto tempo em tão poucos dias! As dores e as delícias de morar fora! Que bom ler o que vc escreve e me identificar ainda mais! Um beijo apertado!