no meio do caos eu me seguro na arte, nos livros e nas pessoas. faço desses alicerces um bote salva-vidas para atravessar o mar tortuoso que nos circunda.
tem sido semanas difíceis para quem tem um útero. tem sido semanas difíceis para quem lê as notícias e ainda tem um pingo de humanidade dentro de si. estar vivendo nesse tempo, nesse país, é estar em constante sofrimento ético-político. neste cenário, vislumbrar um futuro é difícil. eu me pergunto todos os dias: como atravessar estes tempos sombrios? não tenho respostas, e muitas vezes tenho medo de fazer perguntas (mesmo sabendo que são elas que nos movem). para onde estamos indo como humanidade? essa pergunta me tira o sono. você também sente isso?
no meio do caos eu me seguro na arte, nos livros e nas pessoas. faço desses alicerces um bote salva-vidas para atravessar o mar tortuoso que nos circunda.
Annie Ernaux foi a companhia perfeita para esses dias sombrios em que todos os dias vimos mulheres sendo violadas em seus direitos.
esse livro é um grito (de vida, de basta, de liberdade).
um clube do livro em uma manhã de sábado, pois ler em conjunto é encontrar forças para resistir e (re)criar futuros possíveis.
não me abandono pelo caminho, ainda sonho. mergulho nos sonhos, no que faz meus olhos brilharem, no que acelera o coração.
cafés são pretextos para bons encontros (com pessoas amadas e comigo mesma).
pisar os pés na areia gelada, sentir o cheiro do mar, aprender com as ondas que tudo na vida é movimento constante.
admirar o pôr-do-sol todos os dias. sentir a finitude viva dos instantes que passam, só para me lembrar que o tempo de viver é agora.
desvio das redes sociais e encontro outras mulheres nas suas escritas. minha caixa de e-mail está repleta de mulheres inspiradoras que me ajudam a escrever o presente.
A Vanessa termina uma travessia.
A Priscila doma a palavra para falar: EU SOU ESCRITORA!
Ela conversa com a Mariana e sua tasca aberta, peito aberto, gato sem rabo.
“Tenho preferido ler livros escritos por mulheres, assistido a filmes e séries em que as mulheres são as protagonistas, ouvido mais artistas mulheres, assinado newsletters escritas por mulheres, e por aí vai. E quanto mais consumimos conteúdo produzido por mulheres, mais mulheres geniais vão aparecendo na nossa roda que vão remodelando nossos pensamentos e trazendo novas reflexões.” Espiral, Lalai Persson
me emociono com o que o Julian Fuks escreve sobre a alegria ser um afeto político, fundamental para transformar o futuro.
assim eu sigo pelos dias, abraçada na arte, nas palavras, nas pessoas, sonhando um futuro e me alegrando, apesar de tudo.
Os anos - Annie Ernaux
Eu amei esse livro! Annie faz uma escrita de si, ainda que na terceira pessoa, o que revela um certo distanciamento para que ela escrevesse a própria vida.
“Quando sentia vontade de escrever em sua época de estudante, ela esperava encontrar uma linguagem desconhecida que revelasse coisas misteriosas, como uma vidente. Ela também imaginava que o livro pronto fosse revelar aos outros alguma coisa do seu ser, uma realização superior, uma glória —ela teria dado tudo para se tornar “escritora”, assim como quando era criança e desejava dormir e acordar transformada em Scarlett O’Hara. Depois, dando aulas para turmas bagunceiras de quarenta alunos, no supermercado com seu carrinho de compras, nos bancos de um jardim público ao lado de um carrinho de bebê, esses sonhos a abandonaram. Não existia esse mundo inefável que surgiria magicamente de palavras inspiradas. Ela só poderia escrever a partir da própria língua, aquela falada por todos, única ferramenta que poderia usar para tratar daquilo que a revoltava. Assim, o livro a ser feito representava um instrumento de luta. Ela não abandonou essa ambição, mas agora tudo o que mais gostaria era de poder captar a luz que toca nos rostos já desaparecidos, nos guardanapos manchados de comida nos encontros de família, essa luz que já estava nas histórias contadas aos domingos em sua infância e que continuou encostando em todas as coisas assim que eram vividas, uma luz anterior. Gostaria de poder salvar para sempre os carrinhos bate-bate no parque de diversões em Bazoches-sur-Hoëne o quarto de hotel da Rue Beauvoisine, em Rouen, não muito longe da livraria Lepouzé onde Cayatte rodou uma cena de Morrer de amor a máquina de vinho no Carrefour da Rue du Parmelan, em Annecy…”. Annie Ernaux
A biblioteca da meia-noite - Matt Haig
Já imaginou ficar entre a vida e a morte e ir parar em uma biblioteca? E em cada livro poder viver uma vida diferente? Pois, é assim que Matt Haig escreveu a sua biblioteca da meia-noite. Um livro lindo que me fez refletir muito sobre a vida e as escolhas que fazemos.
“Enquanto a Biblioteca da Meia-Noite estiver de pé, Nora, você será resguardada da morte. Agora, precisa decidir como quer viver.” Matt Haig
“Começar fase nova tem algo de abrir a porta pra um espaço que você não conhece.”
“Elementos. Temperos. Camadas. De quando você chegou. Para sempre em nossos dias (agora, a três).”
a sensibilidade da tua escrita...