quando se nomeia
se faz a vida
e quem escreve
se desconhece a cada linha
mas ousa sentir tudo
“Many things in the world have not been named; and many things, even if they have been named, have never been described.”
Susan Sontag
“Muita coisa importante falta nome.”
Riobaldo, em Grande Sertão Veredas
no limiar do silêncio e da letra existe a vida existe um abismo a tentativa de expressar o irrepresentável “Pois a vida é impronunciável.” Clarice Lispector e o que se faz com o que não podemos falar? tropeçamos nas palavras não ditas nosso corpo grita o sintoma tem voz nossos sonhos nos narram a nossa revelia o que é inominável pode ser traduzido em palavras? a minha escrita nasce do silêncio da impossibilidade de dizer e ainda assim arriscar dar um corpo de palavras ao que quer ser dito ao silêncio Clarice Lispector me inspira a fazer da palavra a vida o que antes não tinha nome como a boa espera o ato de não querer acabar de ler um livro bom de fingir que esqueço, esconder, só para encontrar e sentir novamente a felicidade do encontro vira “felicidade clandestina” e esse nome contém um sentimento que ultrapassa qualquer palavra a tentativa de fazer palavra nunca é em vão nunca é completa e eu me abrigo na poesia para atravessar o silêncio para dizer o que se diz nas entrelinhas quando escrevo estou fadada ao desencontro estou no encalço de alguma coisa oculta o visível e o invisível o desejo, o medo quem eu sou eternamente em criação me estranhando, desconhecendo “A partir da ideia de que o eu não nos é dado, creio que há apenas uma consequência prática: temos de nos criar a nós mesmos como uma obra de arte.” Michel Foucault e quem me lê, como me cria? escrevo pois quero falar escrevo para encontrar a medida do silêncio escrevo para tentar entender escrevo para nunca entender escrevo para sentir “Não se preocupe em ‘entender’. Viver ultrapassa todo entendimento”. Clarice Lispector Clarice sabe que a escrita é relação a escrita e a vida – indissociáveis encontrar a palavra é lidar com uma veia que pulsa com um coração selvagem quando se nomeia se faz a vida
(Texto inspirado na leitura do livro No limiar do silêncio e da letra, da psicanalista Maria Homem)
Noite em claro Noite a dentro - Martha Medeiros
Escrever enquanto chove e escrever um livro até parar de chover. Deixar que o fluxo da chuva dite o fluxo da escrita. Quem é escritora? Quem é personagem? Uma é parte da outra. Sempre parte. Escrever em partes. Abrir espaço pro silêncio dentro do livro. Quero quebrar o silêncio e escrever sobre o que li nas entrelinhas. Mas só sei sentir. Um livro que nasce no meio da noite e ilumina partes escuras. Lusco-fusco. Mostra, esconde, escancara a noite que te habita. Quem escreve se desconhece a cada linha mas ousa sentir tudo. Sentir escorrer pelas palavras, como a chuva. Somos todos inocentes condenados à solidão? Quando eu te leio eu adentro a tua solidão. A minha solidão. E não estamos mais sós.
não há coração que fique triste depois de assistir esse episódio do Greg news…
… e essa temporada da série Em casa com os Gil
amei demais o texto de hoje. me identifiquei muito, obrigada por colocar suas palavras no mundo :)