aqui eu escrevo para abraçar a falta do mundo ficar na confusão não tentar concluir nada amar as brechas fazer rasuras mudar de ideia aqui eu escrevo com o distúrbio poético da memória ficcionista invento para viver escrevo para inventar a vida a cada instante
As páginas de um diário…
04/08 minha obsessão é tentar acabar com a falta do mundo 05/08 tentando desesperadamente me convencer a abraçar a falta do mundo mas me flagrar (o tempo todo) no movimento obsessivo de resolver tudo tapar os buracos consertar rachaduras evitar brigas querer responder (para ontem) qualquer demanda desejar o: pronto, ufa, acabei sem me dar conta que a resolução é o fim e a resolução absoluta é a morte nenhuma brechinha nenhuma rasura pronto, acabou morri (e eu não quero morrer em vida)
É sempre a hora da nossa morte amém - Mariana Salomão Carrara
A cada capítulo os mesmos personagens vão ganhando papéis diferentes na vida de Aurora. A perda da memória, a memória inventiva, a tentativa de dar sentido aos eventos de uma vida em que se morre todos os dias, em que se esquece todos os dias. A cada dia o cachorro tem uma história diferente, ainda que tenha o mesmo nome. A cada capítulo Camila é uma pessoa diferente, uma filha, uma amiga. E eu me pergunto se todos nós não sofremos deste distúrbio poético: a memória é mesmo uma ficcionista.
“(…) uma pessoa que já foi avisada de tudo o que possa vir a acontecer, não é natural manter-se vivo, todo o corpo fica permanentemente combatendo nossa tendência a morrer, a vida em si é que é surpreendente, todos os órgãos funcionando, o milagre da respiração, quando ouvia adultos rezando eu me detinha particularmente na passagem que eu escutava errado, Agora é a hora de nossa morte amém, por isso eu tinha tanto medo que rezassem perto de mim, mas mesmo depois que me explicaram continuei desconfiada, Agora e na hora de nossa morte amém, que hora era essa, a hora de nossa morte, como se fôssemos morrer em apenas um momento, estávamos morrendo já ali mesmo enquanto eles rezavam, com o detalhe de que por sorte neste preciso momento o corpo venceu, agora venceu de novo, e venceu agora também, até que de repente não.”
Neuroses a varejo - Aline Valek
Eu amo a Aline Valek! Esses dias me dei conta que eu já li todos os livros que ela publicou, e isso significa tanto! Esse livro é mais uma preciosidade. Ainda lembro de cada conto. É que a escrita da Aline sempre deixa algo reverberando aqui dentro.
“O espanto reside antes em se descobrir confortável consigo mesmo, em perceber-se mais sozinho do que nunca mesmo acompanhado ou ainda em abraçar a própria excentricidade intrínseca.”
Pra quem está em Floripa: Exposição do Urban Sketchers na Igrejinha da UFSC
Que alegria te ter por aqui!