nesse mês que se arrasta só quero atravessar os dias com paciência e fé que será possível reconhecer (no meio do inferno) o que não é inferno e seguir em frente
"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: procurar e reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço"
Italo Calvino
É outubro, mas me apego a Caio F. ensinando a atravessar agosto. Paciência e fé são dois ingredientes fundamentais para atravessar os dias sem sermos esmagados pelos horrores, pela desesperança, pelo tempo que parece não passar e pela ansiedade que sufoca. Fé para estar seguro: novembro chegará. Fé para acreditar: janeiro chegará com Lula na presidência. Ao mesmo tempo, é preciso ficar um pouco distraído e inconsciente que é outubro e que dia 30 se aproxima. Tenho me agarrado em livros, filmes, séries, bons encontros, boas conversas, boas comidas. Tenho reunido pessoas que amo perto de mim. É preciso urgentemente reconhecer o que não é inferno no meio deste inferno. E preservar. E cuidar. E abrir espaço. E criar. Para atravessar outubro é preciso reaprender a dormir e a sonhar (já que as noites insones estão sempre a me assombrar). Caio F. sugeriu que um amor seria importante, mesmo um amor inventado. Mas talvez fique para depois, já que Lula prometeu que em seu governo vai todo mundo namorar. Para atravessar outubro é preciso ir, sobretudo, em frente. Vamos, vamos juntos ❤️⭐️
Últimos dias de #literoutubro
Mrs. Dalloway - Virginia Woolf
“Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores.”
Assim começa o livro, com uma das melhores “primeiras frases” já escritas (na minha humilde opinião, competindo com “A metamorfose”, do Kafka). Um romance que se passa em um único dia. São os temas do livro: o centro de Londres, a travessia, a trajetória urbana, a vida comum, o fluxo de consciência, o real e a vida. Virginia Woolf escreve como quem sabe decifrar linguagens secretas, como quem escuta os passos nas ruas e lhes dá uma história.
“Ela se sentia muito jovem; ao mesmo tempo, inconcebivelmente velha. Passava por tudo como uma faca afiada; ao mesmo tempo, ficava de fora, contemplando. Tinha uma sensação permanente, olhando os táxis, de estar longe, longe, bem longe no mar e sozinha; sempre era invadida por essa sensação de que era muito, muito perigoso viver, ainda que por um dia.”
Trilhas - Robyn Davidson
“A vida é tremendamente jubilosa, tristíssima, muito louca, sem nenhum sentido, engraçada pra diabo!”
“As duas coisas importantes que aprendi mesmo foram que somos tão poderosos e fortes quanto nos permitimos ser, e que a parte mais difícil de qualquer empreendimento é dar o primeiro passo, tomar a primeira decisão.”
Eu amei demais esse livro! Robyn Davidson viaja pelo hostil Outback australiano, ao longo de quase 3.000 km em direção ao mar, tendo apenas como companhia quatro camelos e sua cadela de estimação. Uma história real de coragem e força, um grito de vida. (Me lembrou muito o livro Livre, da Cheryl Strayed).
“Portanto, tomei uma decisão que trouxe consigo coisas que eu não sabia como explicar na época. Eu tinha tomado essa decisão instintivamente, e só depois atribuído significado a ela. A viagem nunca tinha sido considerada por mim como uma aventura para provar algo. E aí me bateu que a coisa mais dura havia sido tomar a decisão de agir– o resto tinha sido mera tenacidade, e os medos eram tigres de papel. Realmente era possível fazer qualquer coisa que se tivesse decidido fazer, seja mudar de emprego, mudar- se para outro lugar, divorciar- se de um marido ou qualquer outro lance– era mesmo possível mudar e controlar nossa própria vida; e o procedimento, o processo de mudar, era uma recompensa em si mesmo.”
Viajei para Jeri com a Mariana! (meu sonho de viagem)
10 anos separam 2 viagens - sempre é o mesmo rio, nunca é o mesmo rio
Débora Gomes e Priscila Pacheco (2 das minhas escritoras preferidas) em uma news sobre bem-te-vis. É muito amor
Que alegria te ter por aqui!