aprender a morar na saudade
como quem mora em um abraço
apertado
mas sem sufocar
saber que dois corações se encontram
e batem no mesmo ritmo
mesmo a um oceano de distância
Aprender a morar na saudade é um aprender sem fim. As despedidas me acompanham pelos caminhos, e eu ainda sigo tentando dominar a arte de perder. As ilusões perdem as máscaras. A vida segue se impondo, como ela é. Eu sigo cantando Milton Nascimento, por dentro, pela vida. Não, nada será como está, amanhã ou depois de amanhã. Mas sempre resiste na boca da noite um pouco de sol. Vou matar as saudades de um lado só para morrer de saudades do outro. A vida samba em cima dos planos. Ela ri, ironicamente, falando: “você achou que tinha algum controle?”. E eu insisto, peço, “vida, pisa devagar”. E sigo. Faço dos amores a minha casa. Faço dos abraços o meu país. Faço das palavras a minha máquina do tempo.
Amanhã começo a minha jornada de volta pra Austrália depois de um mês no Brasil. Matei as saudades, criei saudades, mergulhei no mar, bebi muitas caipirinhas, peguei covid, li bastante, apresentei o Brasil e a minha casa pra pessoa que eu amo. Tive encomenda perdida pelos correios, me deparei com uma cobra na cachoeira, perrengue do outro lado do mundo para resolver, e ainda recolheram a minha vegemite no caminho. Abracei meus pais, meu irmão, meus cachorros, e ainda assim não foi suficiente (nunca será). Pão de queijo, pão de trigo, pastel, coxinha, paçoca, bombom, cachorro quente, feijão de mãe, bar, mar, lar.
Arte de Rapha Baggas
E pra quem ama Marisa Monte como eu, tem o show Portas, lindíssimo, no YouTube ♡
Da próxima vez que te escrever estarei do lado de lá. Espero não demorar!