é nas cores do outono daqui que eu me sinto mais estrangeira também quando o inglês não quer grudar na língua quando eu quero dizer que não vou trocar seis por meia dúzia mas não existe essa metáfora nem a do camarão que dorme nem a do alecrim dourado quando o cheiro do curry no corredor me arde o nariz quando o passarinho daqui não canta como o bem-te-vi quando não tem massa de pastel no mercado e as crianças crescem sem Nescau e bisnaguinha mas é nas cores do outono de um fim de tarde de junho que nunca viu festa junina nem a palavra saudade que me sinto mais estrangeira
Esses dias, estava escutando esse podcast com Noemi Jaffe e Bruna Dantas Lobato, e elas falavam sobre estranhar a própria língua e ficar no estranhamento. Desfocar para focar. A Bruna também compartilhou um pouco da experiência dela em morar e estudar fora do Brasil, escrever um livro em inglês e se traduzir pro português. Fiquei encantada. Já encomendei o livro em inglês, que deve chegar nesses dias. Enquanto o livro não chega, mergulhei na leitura deste ensaio que a Bruna escreveu pro The New Yorker. Lindo lindo.
No mais, no meio de mil provas para corrigir, artigos para revisar, e uma apresentação do PhD, voltei, num dia de chuva, para compartilhar que a poesia ainda pulsa por aqui.