eu perco óvulos, pele, fios de cabelo, células. eu perco o sono, horas e horas de sono. eu perco tempo, minutos, segundos (para onde vai o tempo perdido? eu não quero encontrá-lo.) perco o ônibus que acabou de sair da parada. perco também a parada do ônibus. perco a memória (o que foi que eu comi ontem mesmo?). perco o teu aniversário, o teu abraço, o teu cheiro. perco a paciência, a compostura, litros e litros de lágrimas. perco a vergonha, as máscaras, os deverias. perco a rua, a lua, as cores do fim do dia. perco a fome, os fones, e a fantasia de como será o futuro. perco a calma, a alma, os sonhos. perco as unhas, a água, a praia. perco os kiwis, os pinhões, as coxinhas. perco o senso de direção, papéis desimportantes, o cartão do ônibus (ufa, achei!). perco os dentes, as gentes, o teu presente. perco as palavras, os instantes, as entrelinhas. perco a voz, o grito, a coragem. me perco, me encontro, só para me perder novamente. perdemos rita lee. e se a vida não é perder, eu não sei o que é.
“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério”Elizabeth Bishop
Notícias do lado de cá:
Duas semanas já se passaram, e duas semanas no tempo daqui correspondem a uma eternidade. Numa quarta-feira acordei e quase enfartei: aniversário da minha mãe, Rita Lee encantou-se, e meu irmão comprou a passagem para vir me ver. Tudo isso antes das 7 da manhã. Vida, pisa devagar, rezei. Chorei, sem conseguir controlar as lágrimas. Os motoristas dos ônibus daqui me veem e já devem pensar: "Ih, lá vem a louquinha que chora sozinha, fala sozinha e gargalha de rir sozinha (essa parte é responsabilidade dos amados do "me conte uma fofoca"). E eu só respondo: "mas louco é quem me diz, e não é feliz, eu sou feliz". E cada dia mais eu descubro que ser feliz é viver a vida intensamente. Mesmo que isso envolva a dor das perdas e da saudade,pois isso também faz parte de uma vida bem vivida.
Rita Lee tem guiado meus dias, confirmando a minha certeza de que quem amamos sempre deixa uma parte de si em nós. Nunca morre. No mais, conheci o outlet daqui (e, fala sério, quem não ama um outlet?). Mas foi ruim ir sozinha. Sou absolutamente péssima em fazer compras sem alguém para me ajudar com a minha incurável indecisão. Ainda bem que tenho um 3g infinito e uma mãe com muita paciência de me aturar fazendo chamadas de vídeo em provadores. O fish and chips daqui está de parabéns!
Esfriou muito, muito mesmo, e esse país continua passando a perna na brasileira que sempre acha que na Austrália não faz tanto frio. Falei com minhas avós esses dias, e eu preciso te contar que uma tem a nossa diferença de fuso horário anotada num papelzinho do lado do telefone e a outra sabe me consolar como ninguém quando a saudade aperta. Amadas! Tomei a vacina da gripe de graça na universidade e ainda ganhei um donuts. As doçuras da vida.
Fui no aniversário da menininha mais fofa da Austrália e quase chorei quando comi o brigadeiro (tá bom, talvez uma lágrima tenha mesmo caído). Trabalhei tanto nessas semanas que a minha co-orientadora me mandou um e-mail com o título: socializing. Eu juro que ri com a indireta. Saímos para jantar num restaurante japonês da China Town que é de comer rezando.
Saí num dia lindíssimo para bater fotos do campus (e eu não me canso com a beleza desse lugar). Alguns dizem que eu estou em fase de lua de mel com o PhD. Pode até ser, mas eu não me iludo com as dificuldades do caminho. Eu só sinto que eu não posso estar onde eu não posso amar (beijo pra Frida). Eu morro de medo de um burnout. Então, mesmo nos dias mais difíceis, ainda tento encontrar um pouquinho de diversão em tudo o que eu faço. Ah, sem contar que não levar nada pro lado pessoal e me levar menos a sério também são lições valiosas. Aqui sextou (gente, as nossas expressões são as melhores, as outras línguas que me desculpem) com filminho, pizza, cookies e girls night!
(Estou revisando essa news num domingo, depois de orgulhosamente ter cozinhado o melhor feijão desde que precisei fazer o meu próprio feijão!)
Someone else’s shoes - Jojo Moyes
Que livro gostoso de ler! Quando a vida já está pesada demais, ou quando passo o dia lendo vários artigos, a leitura que me salva e que me transporta pra outra realidade é essa #emdefesadosromancesaguacomaçucar
“Todo mundo está preocupado com seus 40 anos. O papo de que os quarenta são os novos trinta me soa como uma fantasia publicitária quando vejo essas amigas e amigos em variadas formas de crise. Atropelados pela velocidade dos tempos. Álcool, remédios, ácido hialurônico.” Nevoeiro é uma das news que eu mais amo!
Crônica de primavera (da também favorita “Espiral” - Lalai, quer ser minha amiga?)
Que alegria te ter por aqui!
Bruna do céu, que saudades de te ler! Essa semana resolvi ouvir você no Literapia só pra variar. Queria poesia e não podcasts com mais conteúdo novo. Me aconchegou o coração ❤️
Amei o „socializing“ - lembra sempre que o descanso faz parte do processo ✨
Você já leu “Grown Ups” da Marian Keyes? Você vai adorar, é tipo novela das seis 😉